Estudo diz que 47% dos profissionais não têm confiança em criticar o próprio local de trabalho.
O desafio da indústria publicitária em relação ao recebimento de críticas por parte de seus integrantes é o tema da Pesquisa “A publicidade aceita crítica?”, fruto do trabalho acadêmico de doutorado do publicitário Lucas Schuch. De acordo com o estudo, agências, veículos e marcas ainda não são considerados pelos profissionais espaços seguros para esse tipo avaliação.
O levantamento aponta que – mesmo que 73% dos profissionais entrevistados se sintam confortáveis para criticar a indústria de publicidade como um todo – somente 47,3% dizem ter confiança para comentar sobre o próprio local de trabalho. Grupos virtuais fechados (42,4%) e conversas em ambientes externos (32,7%) são os locais preferidos para debater os problemas da área.
Além disso, os dados mostram que 85% dos profissionais de publicidade já sentiram medo de postar algo em suas redes que pudesse comprometer seus empregos. Devido ao medo de retaliações, apenas 26% dos entrevistados afirmaram já ter tomado alguma iniciativa frente aos problemas da publicidade.
Schuch considera que, assim como em outras áreas profissionais, é urgente a necessidade de criação de espaços abertos para os debates internos no setor publicitário. “Não vamos ver as mudanças necessárias com pensamentos convergentes. É a crítica que leva à transformação, mas estamos diante de um mercado que não aceita bem esses assuntos. Então, é um pouco contraproducente”, defende.
Para o publicitário, as discussões sobre o assunto não devem se restringir ao ambiente das agências, mas o processo deve ser sistêmico. “Enquanto as marcas não forem mais vocais sobre os problemas que elas financiam dentro das agências, o problema será bem maior. Essas instituições precisam ser mais vocais sobre essas questões”, acrescenta.
Para romper com esse ciclo e, de fato, criar espaços melhores para todos os integrantes do mercado, Schuch defende a união entre os diferentes cargos. Dessa forma, os profissionais que fazem parte das camadas mais baixas correm menos riscos de serem penalizados ao expressarem opiniões divergentes.
“Para não cairmos em uma crítica imobilizadora, é importante que essa união dos querem a transformação, tanto os que fazem parte da base quanto os que integram a liderança. Para que a base não seja fragilizada, o ponto é encontrar os líderes certos, porque alguns também querem essa melhoria”, salienta.
Agências
Vivian Vaz, creative talent director da Leo Burnett Tailor Made, concorda com a pesquisa e diz que o mercado ainda não debate de forma transparente esse e outros problemas, como carga horária, preparação de lideranças e urgências de prazos. Ela afirma que o tema saúde mental é uma das prioridades na agência. Internamente, a empresa investe, dentre outras coisas, em encontros entre colaboradores e gestores; processo formal de feedback; e grupos de afinidade.
“Outra prioridade nossa é o desenvolvimento de lideranças. Essas ações atreladas ao respeito à carga de trabalho, equilíbrio e bem-estar do time ajudam a resolver boa parte das nossas dificuldades. Mas é preciso reconhecer que temos que pensar em como acelerar a mudança. Vale reforçar que ela está acontecendo, principalmente quando falamos sobre assédio e diversidade. Quanto mais evoluirmos, mais as pessoas se sentirão seguras”, fala.
O CEO da agência Propeg, Vitor Barros, acredita que conversas abertas sobre a indústria da propaganda são necessárias dentro e fora da agência. É dessa forma que, segundo ele, serão construídos ambientes mais saudáveis. “Na publicidade, precisamos pensar juntos. É importante que o profissional enxergue o mercado e o local de trabalho como um espaço de aprendizagem, se faz essencial o espírito de respeito, colaboração e humildade em toda a indústria”, finaliza.
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