Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Após a sua tentativa frustrada de fundir o Pão de Açúcar com o Carrefour, o empresário Abílio Diniz declarou que foi um erro ter envolvido o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) na transação. Segundo ele, poderia ter obtido recursos de outras fontes sem despertar críticas de envolvimento de capital público.

Ao mesmo tempo, uma grande empresa brasileira nos confessou que é fácil para ela obter dinheiro no exterior para seus investimentos. Acabam captando do BNDES por sugestão do próprio banco, que gosta de emprestar para bons pagadores.

Continua a prática de financiar privatizações. Deveria emprestar a projetos descartados pelo setor privado

Enquanto isso, um dono de restaurante reclama da demora na liberação de certas linhas do BNDES. Mas isso não o está impedindo de abrir nova filial do restaurante.

Esses casos nos fazem perguntar: o Brasil precisa do BNDES?

Antes que nos chamem de privatistas ou neoliberais, é bom antecipar que a nossa resposta para essa pergunta é sim. Mas não como está sendo feito atualmente.

Discussões acadêmicas sobre bancos de desenvolvimento reconhecem a importância desses bancos em financiar empreendedores com bons projetos, mas sem acesso a capital. Também podem ajudar o mercado em momentos de crise e escassez de crédito, injetando capital como forma de inflar os espíritos animais dos empresários.

Não nos parece, entretanto, que seja o caso do BNDES. Um estudo que fizemos com as empresas listadas em bolsa no Brasil no período 2002-2009 mostra que, embora o banco empreste para empresas com bom fluxo de caixa, um aumento ou diminuição das alocações do BNDES para essas empresas não afetam consistentemente o seu desempenho ou taxa de investimento. Empresas comparáveis, sem BNDES, investem tanto quanto empresas com BNDES*.

Umas das explicações é que empresas listadas em bolsa são de grande porte e têm amplo acesso a fontes diversas de capitalização, internas ou externas. Mas contraem as linhas do banco como forma de se beneficiar dos subsídios do banco, ainda que os seus projetos saíssem de uma ou outra forma. Mesmo estatais como a Petrobras, que têm recebido volumosos aportes do BNDES, podem facilmente emitir títulos no exterior a um custo mais baixo do que competidores de peso.

Já reagindo a críticas de que o BNDES tem financiado grandes grupos, executivos do banco têm se preocupado em mostrar que a participação de pequenas e médias empresas nas linhas de crédito vem aumentado.

A maior ênfase em pequenas empresas é altamente louvável, mas não é suficiente. Esses pequenos empresários conseguiriam recursos de outra forma? Os seus projetos geram impacto social relevante que justifique aporte de um banco público? Financiar um pequeno empresário abrindo uma loja em grande cidade não é, sob o ponto de vista social, o mesmo que financiar um empresário buscando soluções de alta tecnologia para projetos de nutrição ou saúde.

Executivos do banco também enfatizam que o crescente papel das alocações para apoiar projetos de infraestrutura. Sem dúvida, uma das áreas de maior carência no Brasil. Mas aí há, nova mente, um problema de priorização. Por que, por exemplo, financiar 60 a 80% dos investimentos em estádios de futebol ou grandes aeroportos de elevado tráfego, quando são projetos que interessam às empresas? Continua, no Brasil, a prática de financiar privatizações e concessões com volumosos recursos públicos. O correto seria fazer isso só no caso de projetos com baixo interesse pelo setor privado. Aeroportos regionais, prisões, saneamento, estradas e portos em regiões pouco desenvolvidas são exemplos.

Alice Amsden, professora do MIT e pesquisadora destacada de políticas industriais, afirmou no seu livro "The Rise of the Rest" que o maior problema dos bancos de desenvolvimento não é "gastar com as indústrias erradas, mas gastar muito de forma geral" (p. 135).

Com o crescente interesse por mercados emergentes e o maior desenvolvimento do mercado de capitais brasileiro, abre-se uma grande janela de oportunidade para atrair recursos externos e direcionar crédito público para aqueles que realmente precisam. Assombrados pela crise no mundo desenvolvido, investidores estrangeiros correm como loucos à busca de novas oportunidades.

Nesse sentido, seria desejável aumentar o uso de instrumentos do próprio mercado de capitais. Ao invés de empréstimos diretos, por exemplo, o banco poderia atuar mais na compra de uma parcela reduzida de debêntures emitidas por empresas, deixando o resto suprido por outros investidores.

Nas suas alocações acionárias via BNDESPar, seria também importante estabelecer uma estratégia clara de saída: o banco apoia determinadas empresas com carência comprovada de recursos, mas já sinaliza que irá vender sua participação quando o empreendedor puder caminhar com suas próprias pernas. Comprometendo-se, ao mesmo tempo, a não resgatar perdedores.

Mas se o BNDES fosse mais seletivo nas suas alocações, suprindo reais falhas de mercado, provavelmente o banco teria metade do tamanho que tem agora. Seria uma oportunidade de reter os talentos do banco e colocá-los para incentivar e monitorar iniciativas de alto impacto social. Interessa aos governantes e políticos, entretanto, abrir mão de um colosso com grande influência sobre o direcionamento de crédito no país? Para essa pergunta, infelizmente também já sabemos a resposta.

*"What Do Development Banks Do? Evidence from Brazil, 2002-2009". Disponível em ssrn.com/abstract=1969843

Sérgio Lazzarini é professor titular do Insper. E-mail: sergiogl1@insper.edu.br.

Aldo Musacchio é professor associado da Harvard Business School.

Rodrigo Bandeira-de-Mello é professor adjunto da EAESP-FGV.

Rosilene Marcon é professora da Univali.

Fonte:|http://www.valor.com.br/opiniao/2562782/precisamos-do-bndes

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Comentário de GEORGES LOUIS D. DE CASTRO em 12 março 2012 às 11:01

PELO VISTO...CUBA PRECISA!!MAS PARA NÓS PROBRES MORTAIS...VAMOS BUSCAR RECURSOS PARA FINANCIAR A PRODUÇÃO EM BANCOS PARTICULARES...COM JUROS BEM BARATINHOS!!!

 

GEORGES LOUIS

 

Comentário de Oscar da Silva em 9 março 2012 às 23:29

NÃO!!!!!! Não precisamos do BNDS.

Pelo menos não nós (eu e talves alguns de vcs) pequenos empresários, que têm de aportar quaisquer projetos com recursos próprios ou com empréstimos abusivos.

Não precisamos porque não podemos contar com o BNDS. Para eles, é mais seguro, confiável e prático emprestar o NOSSO dinheiro (afinal, de onde vc pensa que vem esse dinheiro? Do meu, do seu , do nosso impostozinho de cada dia... do Fundap, do ... bom: deixa prá lá). Voltando ao assunto: Para eles é mais seguro emprestar NOSSO dinheirinho para as AES da vida, para os mega-hiper empresários que geram apenas 15% do emprego no Brasil (os outros 85% ou somos nós ou é o próprio Governo). Para nós, digo eu, só o custo de um Projeto é maior que o Projeto em sí e, preste atenção: - projetos esses elaborados muitas vezes por "especialistas" e "técnicos" que cobram pequenas fortunas por essa assessoria.

Comentário de Sam de Mattos em 9 março 2012 às 23:20

Mais ou menos: E um indice de juros de mercado (Brasil) variave,  formulado por economistas baseados em formulas que refletem o juros bancaris a ser cobrados pelo Bancosa vice eu.

Julinho, qual e o Juro anual cobrado pelos bancos no Brasil, agora. Para voce e eu? SdM

Comentário de Julio Caetano H. B. C. em 9 março 2012 às 22:44

PREZADO Sam: QUOTE:"A taxa SELIC é um índice pelo qual as taxas de juros cobradas pelo mercado se balizam no Brasil. É a taxa básica utilizada como referência pela política monetária. A taxa overnight do Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), expressa na forma anual, é a taxa média ponderada pelo volume das operações de financiamento por um dia, lastreadas em títulos públicos federais e realizadas no SELIC, na forma de operações compromissadas. A meta para a taxa SELIC é estabelecida pelo Comitê de Política Monetária (Copom)."UNQUOTE
QUOTE: "o custo anual de juros bancários para um cidadão comum obter empréstimo"UNQUOTE

é outra coisa; entendeu? duvidooooooooooooo.

Comentário de Sam de Mattos em 9 março 2012 às 17:00

He, He, He.... Pimenta na...................eh refresco!

Comentário de Antonio Silverio Paculdino Ferre em 9 março 2012 às 16:48

Acrescento que quase todos bancos de desenvolvimento estaduais tiveram que ser fechados, devido ao abuso dos governadores. Agora, só o BNDES pode abusar. Por que ao participar do controle acionário (BNDESPAR), não orientar na gestão, já que é sócio? Arrogam-se de muito competentes, porem nunca correram risco ao produzir.

Comentário de Sam de Mattos em 9 março 2012 às 15:26

 

Bom comentário Júlio. Quanto ao BNDS só ficarei aqui aprendendo com vcs.

Júlio, vi ontem num canal Brasileiro de TV, que a taxa de Juros caiu para os bancos para cerca de 9.75% ao ano, se não estiver lembrando errado.  E parece-me que eu vi a figura de 113% ao ano, o custo anual de juros bancários para um cidadão comum obter empréstimo. E isso fato ou eu entendi errado? Se for fato,  se um terço desse valor for FATO, estamos sendo cobrados juros extorsivos.  Alguém poderia explicar? SdM

Comentário de Julio Caetano H. B. C. em 9 março 2012 às 14:22

Os empréstimos provindos do BNDES têm a vantagem sobre os provindos do exterior, pela ausência do Risco Cambial. Há quem reclame da burocracia no BNDES na exigência de apresentação de um Projeto e que onera sobremaneira a operação pela necessidade de contratação de um Projeto.
Acredito que o BNDES deveria operar onde não houvesse disponibilidade de outros recursos e quando os recursos existentes fossem muito caros; daí poderia restar mais disponibilidade para os Investimentos em Infraestrutura, onde o Brasil está demasiadamente/exageradamente carente.   

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