Importação afetou diversos setores
Aguinaldo Diniz Filho, da Abit: "Um dos piores anos da indústria têxtil"
Os setores têxtil e de confecções, de calçados e químico - que não refizeram as projeções - apresentaram maus resultados no acumulado do ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Para esses setores, a concorrência dos importados foi particularmente acentuada. O volume de bens trazidos do exterior aumentou 12,6% em têxteis, 50% em confecções, 26% em calçados e 12,8% em produtos químicos, segundo dados da Fundação Centro de Estudos para o Comércio Exterior (Funcex).
Saindo de uma perspectiva de crescimento em janeiro, a Associação Brasileira da Indústria de Calçados (Abicalçados) e a Associação Brasileira de Indústria Química (Abiquim) registraram contração no acumulado até agosto, na comparação com o mesmo período do ano anterior: 11,4% e 4,3%, respectivamente, segundo a pesquisa industrial mensal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
No caso da Abicalçados, a queda de 13,9% nas exportações neste ano, reflexo da dificuldade em vender o produto para os argentinos, que impuseram licenças não automáticas para a entrada de calçados no país, é outro forte motivo para a contração. Por outro lado, as importações cresceram 43,5% (em valor) no período. No ano passado, o setor tinha registrado aumento de 5% na produção.
Na indústria química, um dos responsáveis pela diminuição da produção industrial foi a queda do preço do gás natural nos Estados Unidos. De acordo com a diretora de economia e estatística da Abiquim, Fátima Coviello Ferreira, o gás é três vezes mais caro no Brasil. Isso fez com que algumas fábricas nos Estados Unidos voltassem a operar e exportar. Por conta também de outros fatores como carga tributária e custos mais altos com logística, o setor tem dificuldades de competir no mercado interno. "A demanda na ponta cresceu 10% até agosto, enquanto as importações aumentaram 36,7%. Isso quer dizer que não estamos conseguindo competir", afirma a economista.
Para Aguinaldo Diniz Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), este "tem sido um dos piores anos da indústria têxtil e de confecção brasileira nas últimas décadas". Em 2010, o setor cresceu em torno de 15%. O aumento do preço do algodão no mercado internacional, o desaquecimento da demanda interna, a estagnação das exportações e o aumento das importações foram os fatores que fizeram a produção física encolher de janeiro a setembro deste ano, segundo Diniz. Com isso, a previsão é que os investimentos também caiam. "Em 2010, o setor colocou mais de US$ 2 bilhões em máquinas, equipamentos, instalações e capacitação. Agora, as atuais perspectivas seguraram os investimentos", afirma. No acumulado até setembro, a Abit viu a produção do setor encolher 14,3%, segundo dados do IBGE.
Na contramão desses setores vem a indústria automotiva. A Anfavea, entidade que representa as montadoras, aumentou em dois pontos percentuais a previsão de crescimento da produção do setor. O mercado interno e as exportações também surpreenderam positivamente: enquanto a venda de automóveis no mercado interno aumentou 7% no acumulado de janeiro a setembro (contra 5% do previsto do início do ano), a exportação cresceu 4% (contra 3% apontados na previsão inicial).
Ligada ao setor automotivo, a Associação Brasileira da Indústria de Autopeças (Abipeças) adiou as estimativas para a produção no ano devido às incertezas em relação ao câmbio, ao consumo no mercado interno e ao crédito mais restrito para a compra de carros. Enquanto no ano passado o setor registrou crescimento de 14,2%, no início do segundo semestre, os cálculos apontaram aumento de 4,3% no faturamento bruto para 2011.
Uma posição diferente é apresentada pela indústria alimentícia, que caminha em 2011 no mesmo ritmo de 2010. Por enquanto, são mantidas as previsões de crescimento de 5% da produção e de faturamento 7% maior, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias da Alimentação (Abia).
"O mercado interno ainda tem boas condições de compra. No mercado externo, o crescimento acontece devido ao valor das commodities, e não por meio da conquista de novos mercados", afirma Denis Ribeiro, do departamento de economia e estatística da Abia. Assim como a produção, o emprego no setor corresponde às expectativas do início de 2011, com crescimento próximo a 5%. (CG e RP)
Elizabeth de Carvalhaes: além de o setor de papel exportar para locais que estão no centro da crise, as vendas internas caíram
O ano de 2011 frustrou profundamente as previsões feitas para a indústria na virada do ano. Entre 11 associações industriais consultadas pelo Valor, nove diminuíram suas estimativas de crescimento ou produziram até agosto um volume de mercadorias muito inferior ao planejado. A desvalorização do dólar e o crescimento das importações foram os principais motivos apontados por executivos como "inibidores" da produção nacional. Dois setores bem distintos, o alimentício e o automotivo, foram na contramão, cumprindo e até mesmo superando as expectativas do início do ano.
No ano, a produção industrial acumula aumento de apenas 1,4% na comparação com os primeiros oito meses de 2010, enquanto o volume exportado de manufaturados ficou apenas 3,8% maior e o quantum de produtos importados aumentou de 9,1% (em bens intermediários) até 29% (em bens de consumo) segundo as estatísticas da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex).
A Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee) projetava em janeiro deste ano um crescimento de 13% na produção em 2011. Esse índice já foi revisto duas vezes. Em março, caiu para 12%; e, em junho, para 8%, segundo Luiz Cezar Rochel, gerente econômico da entidade. "O câmbio teve um comportamento muito ruim para o setor. Com o dólar no patamar que chegou, de R$ 1,60, a nossa competitividade foi prejudicada tanto no mercado externo quanto no interno. Mas a população continua consumindo os importados", diz.
As vendas de parte do setor, no entanto, seguem em ritmo forte. Pela pesquisa de comércio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), até agosto, as vendas de eletrodomésticos foram 18% maiores que em igual período do ano passado. Na avaliação de Rochel - que é compartilhada por boa parte dos industriais -, um câmbio favorável para a indústria brasileira estaria na faixa de R$ 2,30. "O dólar valendo R$ 1,80 já é melhor do que o cenário anterior, mas ainda nos traz problemas de concorrência."
A inflação é outro fator que preocupa a Abinee. Segundo sondagem realizada em setembro, os industriais começaram a apontar o aumento dos preços como motivo de preocupação. "A inflação afeta o poder de compra do consumidor", afirma Rochel. "A situação hoje é muito confusa. Nem conseguimos fazer projeções para 2012, mas estamos de olho no comportamento da inflação e a influência da crise internacional no nosso mercado", conclui.
A crise na zona do euro e nos Estados Unidos, por sua vez, ajudou a diminuir as perspectivas de crescimento da Associação Brasileira da Indústria de Máquina e Equipamentos (Abimaq). Depois de registrar aumento de 11% na produção no ano passado, a Abimaq previu um nível parecido para 2011. No entanto, o avanço não deve ser maior que 5,5%, de acordo com o assessor econômico da presidência da associação, Mario Bernardini. "O resultado não será ruim, mas o cenário não é muito animador", diz. O esfriamento das exportações, por causa da retração na economia dos países desenvolvidos, e a diminuição no nível de investimentos da indústria, que reage a uma acomodação do consumo interno, empurraram para baixo as perspectivas do setor. Para o ano que vem, Bernardini descarta uma volta ao nível antigo.
Outro setor que revisou para baixo as expectativas de produção em 2011 é o de móveis. Apesar de o crescimento de 6% ser bem visto pela Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), o índice é significativamente menor que os 10% projetados no começo do ano, e isso já é motivo de dor de cabeça para o presidente da associação. "O mercado está muito frio. Temos que melhorar neste último trimestre", diz José Luiz Diaz Fernandez.
As medidas de contenção de crédito adotadas pelo governo são vistas como os principais responsáveis pela revisão nas projeções de crescimento do setor. "O comprador de móvel financia o pagamento e, com menos crédito disponível, ele começa a segurar um possível endividamento", diz Lipel Custódio, diretor da Abimóvel.
O setor de siderurgia no Brasil revisou, de maneira mais moderada, a previsão de crescimento para 2011, passando de 11,4% para 10,5%, o que representa 36,3 milhões de toneladas de aço produzidas. A justificativa do setor aponta para a "acirrada competição das importações" e para o desaquecimento da economia. O dólar desvalorizado e os excedentes de aço no mercado internacional favorecem a importação, segundo o Instituto Aço Brasil.
Desde a crise de 2008, a Associação Brasileira de Papel e Celulose (Bracelpa) evita fazer projeções, mas os números deste ano mostram um forte recuo na produção. Na comparação de janeiro a agosto de 2011 com o mesmo período do ano anterior, a produção de celulose ficou estável e a de papel recuou 0,3%. Para se ter ideia do tamanho da retração, a produção de celulose cresceu 6,4% em 2010, em relação a 2009, e a produção de papel avançou 4,4%.
Os problemas enfrentados pelo setor são, principalmente, dois. "No mercado externo, Europa e Estados Unidos, grandes importadores de celulose do Brasil, estão no centro da atual instabilidade econômica mundial. No mercado interno, o aumento das importações de papel tem diminuído as vendas domésticas", diz Elizabeth de Carvalhaes, presidente da Bracelpa.
O setor, contudo, tem uma posição otimista. Os investimentos previstos para os próximos dez anos chegam a US$ 20 bilhões - e não foram revistos mesmo com os sinais negativos apresentados até agosto. O que ocorre é uma renegociação dos prazos, que são trabalhados sobre os sete anos que o eucalipto leva para crescer, por exemplo. "As empresas estão buscando aumentar a sua produtividade, mas o governo precisa fazer a sua parte e buscar alternativas para o câmbio", afirma a representante da entidade.
Estoques crescem e economistas veem alta de 1% na produção
A indústria entrou no quarto trimestre com estoques ainda acima do desejado. Sondagem da Confederação Nacional da Indústria (CNI) divulgada ontem mostrou que entre as 26 categorias analisadas no setor de transformação, os estoques ficaram acima do planejado em 18 deles, enquanto em seis segmentos o volume de mercadorias paradas ficou abaixo do planejado e em um, o farmacêutico, ele ficou dentro do esperado. Além do estoque, a pesquisa também indicou queda da produção industrial em setembro.
Na média, em setembro, o nível de estoque efetivo ficou em 52,9 pontos, sendo que números acima de 50 indicam estoque maior do que o planejado. No mês anterior, o índice tinha ficado em 53,6 e, em julho, 53,9, o indica uma tendência de redução muito fraca do nível de estoques indesejados. Para economistas, o dado de estoques da sondagem da CNI aumenta a probabilidade de um crescimento muito fraco - em torno de 1% - da produção industrial neste ano. Em 2010, a expansão foi de 10,5%.
Os setores de equipamentos de transporte (63,2 pontos), têxteis (58,5 pontos) e veículos automotores (57,3 pontos) foram os que apresentaram nível de estoque mais acima do previsto para setembro. Bebidas, com 42,1 pontos, refino de petróleo, com 44,6 pontos e limpeza e perfumaria, com 45,8 pontos foram os que apresentaram números mais baixos.
"Os estoques continuam um peso para a indústria. O setor começou o terceiro trimestre com esse fardo nas costas, e vai iniciar o quarto com um fardo quase do mesmo tamanho", diz o economista-chefe da LCA, Bráulio Borges. Para ele, os números da CNI contribuem para um número fraco da produção industrial também em outubro, porque as empresas terão de continuar o processo de ajuste dos inventários. Borges estima que, em setembro, a produção industrial encolheu 1% em relação a agosto, com o ajuste sazonal. Borges projeta alta de 1,3% para a produção industrial em 2011, mas acredita que a expansão não deverá chegar a esse número. "O desempenho da indústria neste ano está muito ruim."
Alessandra Ribeiro, da Tendências, também diz que o cenário para estoques apontado pela CNI joga contra uma recuperação da indústria em outubro. "Para setembro, estimo que ocorreu um tombo de 1,5% sobre agosto." Ela deve revisar para baixo sua projeção para a expansão da indústria neste ano, de 2% para a casa de 1%.
FONTE: O VALOR
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Faço coro ao Evandro!
Mesmo sendo um ano "doloroso", sempre resta alguma experiência importante para a vida pessoal e profissional.
Confesso que espero um 2012 bem melhor.
Bom Dia a Todos
Concordo em genero, numero e grau com o meu parceiro Sergio Alves...
Trabalho Na Tavex Corporation Brasil, e passei pelas unidades eArgentina e outras unidades fabris aqui do brasil, e que escuto e que os governantes não se alteram..., tivemos quase uma parada estrategica esse mes de outubro, devido ao estoque ficar alto nas unidades.
Ate quando ficarão " engessados " nossos governantes e nossos lideres texteis no setor vendo a falencia praticamente anunciada...
vamos engrossar esse coro e multiplicarmos essa corrente pelo setor textil tão vital e empregador, e inovador.
Vamos a Luta !!!!
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