Jonathan C. Yung: “Nossa empresa sempre inovou, mas resolvemos estabelecer um programa de pesquisa”
Integrante da terceira geração da família na administração da Universal Indústrias Gerais, empresa têxtil instalada no interior de São Paulo na década de 50, Jonathan C. Yung, chega a fazer eco ao restante dos representantes de um dos setores mais afetados com a concorrência dos importados. Ele afirma que a "maré é baixa" e que viu "clientes morrendo". Mas, em tom mais otimista que a média do setor, vê para 2012 perspectiva de diversificação de clientela e de manter operação suficiente para fechar o ano com o mesmo quadro de 500 funcionários. "Nós dormimos muito mais tranquilos agora do que antes."
Sim, Yung diz que a Universal se preocupa com a concorrência de produtos vindos da Tailândia, do Vietnã e também da China, país do qual o bisavô e avô trouxeram o conhecimento da fiação. O que está fazendo a diferença hoje para a Universal, diz Yung, foi a estratégia adotada há cerca de cinco anos, quando a empresa resolveu investir em inovação de forma planejada e organizada. Hoje, diz, cerca de 15% a 20% do faturamento da empresa resulta de produtos originados de projetos de inovação.
Para Yung, a Lei do Bem foi muito importante para esse processo. Essa lei permite que a empresa deduza do cálculo do Imposto de Renda (IR) despesas em pesquisa e desenvolvimento. A Universal usa a Lei do Bem desde 2008. Naquele ano 460 empresas se beneficiaram do incentivo fiscal. Os últimos dados disponíveis, de 2010, mostram que a quantidade de empresas que usam o benefício aumentou para 639. Isso não significa, porém, que a renúncia fiscal ou o dispêndio com pesquisa, desenvolvimento e inovação das empresas que usaram o benefício subiu na mesma proporção. A renúncia cresceu de R$ 1,58 bilhão para R$ 1,73 bilhão. O valor dos projetos relacionados aos incentivos ficou praticamente estável: foram R$ 8,79 bilhões em 2008 e R$ 8,62 bilhões em 2010.
Outros dados do governo federal vão no mesmo sentido, mesmo a prazo mais longo. Somando o setor público e o privado, os dispêndios com ciência e tecnologia evoluíram, mas de forma tímida: de 1,3% do PIB em 2000 para 1,62% em 2010. Parte da evolução é creditada por empresas e representantes de indústrias à Lei do Bem, instituída em 2006, quando a fatia desses investimentos no PIB era de 1,29%.
Naércio Menezes Filho, coordenador do centro de políticas públicas do Insper, diz que muitos instrumentos de financiamento e de incentivos fiscais ainda são inacessíveis às empresas menores (ver texto ao lado). "O resultado é a grande concentração de projetos de inovação em setores em que há natural agregação de tecnologia." Em 2010, das 639 empresas que usaram a Lei do Bem, 147 eram do setor de mecânica e transportes. Do setor têxtil foram apenas nove.
A inovação, acredita o consultor Valter Pieracciani, não esteve antes entre as prioridades de estímulo do governo federal. A renúncia fiscal do governo federal para a área, avalia, de R$ 1,7 bilhão, é muito pequena. O problema não está só do lado do estímulo. "Também falta às empresas colocar a inovação no centro da estratégia dos negócios", diz Pieracciani.
Pesquisa do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) com 40 grandes empresas mostra que todas consideram relevante a tecnologia. No horizonte de dez anos, o entendimento fica mais explícito: 80% das empresas entrevistadas consideram que a tecnologia será decisiva para sua estratégia de mercado futura e 20% a consideram relevante. São poucas, porém, que declaram possuir clara cultura de inovação. "As empresas reconhecem que a importância da inovação está mais restrita aos dirigentes. A difusão da cultura é muito pequena no conjunto da empresa e entre fornecedores", diz Júlio Gomes de Almeida, consultor do Iedi.
Mário Fioretti, gerente-geral da Whirlpool: o produto inovador precisa ter uma taxa de rentabilidade mínima
A Universal está entre as nove empresas têxteis que usaram a Lei do Bem em 2010. "A empresa sempre inovou, mas resolvemos estabelecer um programa de pesquisa e desenvolvimento, contratamos um consultor para a área, colocamos os projetos no papel", diz Yung. Foi a organização e formalização, conta, que permitiu o uso de incentivos fiscais. Inovação, acrescenta, custa investimento e tempo. Cada produto demora de seis meses a um ano, desde o início das pesquisas, até estar pronto para chegar ao consumidor final.
Fabricante tradicional de fios para camisas, meias, cuecas e calças de sarja, a Universal continua a ser uma fiação, mas por meio da inovação conseguiu variar a aplicação de seus fios. "Começamos desenvolvendo um fio de bambu, que compõe um tecido que respira muito bem e é aplicável para roupas íntimas", conta Yung. Em seguida, a empresa desenvolveu fios com partículas de prata, que tem ação bactericida, destinado a meias e roupas para ambientes hospitalares. Há cerca de dois anos, conta, a empresa também passou a ter produtos com apelo ecológico, o que também contribuiu para diversificar mais a clientela. Yung conta que passou a reutilizar fibras e resíduos da lavagem do algodão para a produção de fios usados para cortinas, carpetes e estofamentos. "Começamos a atuar em decoração."
Para Gomes de Almeida, do Iedi, as empresas precisam lidar com a inovação como arma e não somente como escudo. "Claro que serve como escudo, mas para se defender existem os mecanismos de proteção. Inovação é para quem quer ganhar market share e novos mercados", diz. Cesar Pissetti, diretor de tecnologia e exportação da Randon Implementos, diz que a inovação é praticamente imprescindível com o surgimento de novos concorrentes. Somente no Brasil, diz, a divisão de implementos da Randon tinha em 2007 um total de 67 concorrentes. No ano passado, já eram 152 empresas.
Em 2011, diz Pissetti, a empresa investiu com recursos próprios em inovação, pesquisa e desenvolvimento o equivalente a 1,2% da receita líquida do ano. A tendência, diz o diretor, é que esse investimento torne-se cada vez mais importante em razão da necessidade de renovar com maior frequência o portfólio. Em 2011, 54% da receita da companhia veio de produtos lançados nos últimos cinco anos.
Na Romi, fabricante de máquinas, cerca de 40% da receita vem de produtos desenvolvidos nos últimos três anos. Hermes Lago, diretor de máquinas e ferramentas, diz que o processo de inovação permitiu que a empresa mantivesse nos últimos anos o patamar histórico de exportação, em torno de 15% da receita, mesmo com a valorização do real em relação ao dólar. Com o aumento da concorrência, porém, os critérios adotados pelas empresas para definir um produto como inovador tendem a se tornar cada vez mais sofisticados e exigentes.
Em 2012, a Whirlpool, fabricante das marcas Brastemp e Consul, por exemplo, começou a aplicar uma mudança de métrica que deve tornar mais rígida a classificação de um produto como inovador. Mário Fioretti, gerente-geral de Design e Inovação da Whirlpool Latin America, explica que o mero ineditismo e a oferta de benefícios novos não torna um produto inovador. "Ele precisa ter uma taxa de rentabilidade mínima. O consumidor precisa estar disposto a pagar mais por ele" diz Fioretti. Ele explica que um dos critérios que ficaram mais rígidos neste ano foi justamente o da rentabilidade. "Vamos aumentar a exigência porque a inovação é fundamental para a competitividade."
O gerente conta que a fabricante de eletrodomésticos passou a ter um programa de inovação há 12 anos. "Nos primeiros anos fomos tateando e aprendendo com os erros. Com o tempo, passamos a ganhar prêmios", lembra. Há quatro ou cinco anos, em função da concorrência maior, a empresa passou a intensificar o investimento no desenvolvimento de novos produtos, com elevação de 15% a 20% ao ano nos recursos aplicados.
Em 2010, 25% da receita da Whirlpool Latin America veio de produtos classificados como inovadores segundo a métrica da empresa. A fatia é oito vezes maior do que a empresa tinha em 2007. Em 2011, houve avanço para 27,5%. O gerente explica que a fatia se refere a produtos desenvolvidos no Brasil ou em parceria com o exterior, mas liderados pelo grupo brasileiro. "Nós estudamos os hábitos que são só da mulher brasileira", diz Fioretti. Entres os produtos desenvolvidos pela empresa, estão uma lavadora de roupas com cestinho para peças íntimas e um fogão com forno que emite jatos de vapor, o que reduz em 20% o tempo de cozimento e deixa o assado com carne tenra e úmida.
Fonte:|http://www.valor.com.br/brasil/2622832/lei-do-bem-patina-mas-indust...
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Segundo entendo, o processo que leva ao chamado "fio de bambu" é tão sujo e poluente quanto o processo da viscose, embora o vambu possa ser uma boa fonte de celulose. A fibra que mereceria ser chamada de "verde" é o Tencel, que recicla o solvente utilizado no processo. Avaliar uma melhoria de processo ou produto como "inovação" requer um critério rigoroso, que entendo, não existe, dada a pressa das empresas em ter uma imagem !"verde". O Brasil , pode-se dizer, não tem nem estrutura e nem cérebros ( principalmente cérebros) para inovar na área têxtil, apesar da dedicação e esforço dos profisionais, quemerece respeito .As empresas sequer investem em formação de seus profissionais , por exemplo, em cursos de extensão. Os técnicos pagam na sua maioria do próprio bolso. É vergonhoso!
A rentabilidade da industria textil é muito baixa! Há mais de 20 anos que não se corrige os preços para acompanhar a inflação. É uma loucura. Quem tiver capital de giro, sae ganhando ( poucas) As restantes sobrevivem.
EDISON BITTENCOURT .....o bambu ainda é importado como NCM classificado como viscose.....somente que na asia existe a vontade, e realmente é tão poluente qto a fabricação de viscose!!!!!como tb nao justifica seu alto preço, visto que a materia prima ( bambu ) é mais abundante.
tive a oportunidade de fazer alguns ensaios para fabricar fios de chenille, os rfesultados foram excelentes em toque e tingimento com cor + ""cheia "" e brilho levemente mais acentuado ( feito uma meada de cada tipo em laboratorio ) . juntamente foi colocado uma meada de fibra de leite....este foi um resultado maravilhoso!!! bem superior a viscose e ao bambu, mas o custo nao compensa!!! e sobretudo é tão poluente qto a fabricação dos demais.
abç/adalberto
Adalberto vc tem o nome comercial desta "fibra de leite", ou dua denominação técnica? Grato
EDSON...COMO VAI???
EDSON ACESSE WWW.BRAMBOTEX.COM.....eles tb fabricam a fibra proteica de leite.....caso queira me contate maxim_imp@terra.com.br ou tb 19 9764 7960
abç/adalberto
EDISON BITTENCOURT disse:
Adalberto vc tem o nome comercial desta "fibra de leite", ou dua denominação técnica? Grato
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