As incertezas sobre o início do próximo ano, esperado para ser um período de ajuste do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff, têm causado um tom de cautela entre os empresários. Com raras exceções, as empresas dificilmente falam em ampliar capacidade de produção ou em investimentos vultosos. Pesa sobre o cenário a perspectiva de crescimento baixo do Produto Interno Bruto (PIB), o que deve prejudicar o consumo, segundo lideranças empresariais e entidades industriais ouvidas pelo Valor.
"O setor deve andar de lado", prevê Luiz Cézar Rochel, gerente do departamento econômico da Abinee, que representa o setor de eletroeletrônicos e vive um fim de ano morno em encomendas. Na avaliação de Rochel, passadas as dúvidas sobre o resultado eleitoral, a incerteza com relação à política econômica continua segurando a atividade. "Não há sinalização muito clara em relação a alterações e o mercado para investimento ainda é bastante incerto."
Renato Jardim, gerente da área internacional e de economia da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), diz que 2014 foi um ano de queda de 25% dos investimentos em relação a 2013 e as incertezas sobre as medidas que serão tomadas em 2015 não permitem projeções de forte aumento dos investimentos. "Está todo mundo com dúvidas sobre o que vai ser daqui para frente."
Para Jardim, os empresários devem voltar a investir se perceberem que as medidas a serem implementadas pelo governo vão trazer o país de volta a taxas maiores de crescimento. Do contrário, diz, não haverá retomada. O empresário projeta queda da produção do setor têxtil de 3% em 2014 frente a 2013 e fala em alguma melhora em 2015, mas insuficiente para compensar o recuo neste ano.
O presidente da Termotécnica, Albano Schmidt, avalia que 2015 será um ano difícil em razão dos ajustes do segundo mandato. Diz que não há previsão de investimentos em aumento de capacidade, mas estuda medidas para melhorar a produtividade. Para Schmidt, "2015 será um ano de muita atenção, de ver o que vai ocorrer com a economia, quais medidas serão tomadas. Há muita incerteza pela frente e tudo mundo está sendo bem prudente". A Termotécnica produz embalagens para o setor industrial.
A Butzke, fabricante catarinense de móveis, não fala em grandes investimentos, mas em aumento do uso da capacidade já instalada, para voltar ao nível do início de 2013, quando as vendas começaram a desacelerar. "Estamos usando hoje 45% da capacidade, devemos ir para 55%. O setor de móveis, como um todo, não está bem e deve fechar este ano no mesmo patamar de faturamento observado no ano passado", afirma Michel Otte, diretor comercial da fábrica.
Assim como a Butzke, a empresa de eletrodomésticos Mallory não vai aumentar investimentos, mesmo prevendo expansão de cerca de 20% no faturamento em 2015, diz Mauro Vega, diretor comercial da empresa. Os US$ 30 milhões investidos na fábrica nos últimos três anos devem ser suficientes para cobrir a demanda até 2016, afirma.
Na avaliação de Heitor Klein, presidente da Abicalçados, entidade do setor calçadista, é difícil estimar o cenário de 2015, porque há uma série de "variáveis macroeconômicas que ainda estão se compondo". Em relação aos investimentos do setor, Klein vê dificuldades: "É preciso que muita coisa positiva ocorra no primeiro quadrimestre".
FONTE:
http://www.valor.com.br/brasil/3781168/incerteza-afeta-planejamento...