Ok. Vamos respirar fundo – bem juntinhos – para tomar fôlego e conseguir ir até o final! Cuecas: eis um tema difícil de escrever. É mais fácil falar sobre a calcinha bege: ela está proibida na hora “h” e fim de papo. Já as cuecas…
Mas vamos lá: vou escrever em tom testemunhal, pessoal, acho que facilita e dá até para alfinetar algum/ns dos cinco ex-namorados (opa, brincadeira!). O tema sobre os tipos de cuecas surgiu em uma situação inusitada: eu estava distribuindo cuecas e meias aos moradores de rua no 2º The Street Store BH (projeto que organizei para permitir a escolha de roupas a centenas de moradores de rua). E aí que na sacola que eu tinha com esses itens, somente um modelo de cueca prevalecia: a famosa e temível cuequinha. Minha reação foi espontânea e franca para os moradores de rua:
- Não, cara, não pega isso não! Isso não vai te ajudar.
E eles, sempre muito bem-humorados, rebateram com risinhos:
- Uhmmm… O que cê tá pensando, hein?
E eu:
- Uai, é isso mesmo! Essa cueca aí não ajuda ninguém!
E não deixei eles pegarem. Não essas. Outros modelos menos piores – como uma samba-canção mais curta e com estampa discreta – aí sim eles foram liberados. E espero que tenham boas noites de sexo com suas parceiras. Ponto.
Depois, narrando esse episódio para algumas pessoas próximas, como amigas e alunas de engenharia, percebi que era unanimidade certa opinião feminina: cueca boa, isto é, cueca para causar uma boa impressão nos segundos que antecedem sua delicada retirada do corpo do homem que amamos, é uma cueca boxer e somente em quatro cores possíveis – a saber: preto, branco, cinza claro e vermelho escuro (muito cuidado com esse tom de vermelho, ele tem que ser escuro, seco, fechado). A conversa poderia acabar aqui e o assunto estaria resolvido. Poderíamos seguir com uma campanha nas redes sociais, um manifesto e uma marcha pelas ruas para abolir as cuequinhas-de-dormir-nos-anos-1980 e as samba-canção-shortão-feião.
Mas, vamos explicar melhor o por quê deste tópico (e vou deixar nas entrelinhas algumas leituras de moda como Jenkyn Jones, Gilles Lipovetsky, Stevenson, etc., certa de que os bons entendedores de moda entenderão).
(1) Um dos princípios da moda é a Transgressão, e o outro princípio é a prerrogativa do Novo. Você se veste para se sentir bonito, “por cima da carne seca”, bacana, poderoso, novo. Pensa na sensação de poder da roupa nova, como você se sente bem e seguro com uma camiseta nova. É essa a sensação que a cueca deve proporcionar também na hora do sexo, quer dizer antes do momento crucial: cara, ela (a cueca) deve fazer você se sentir poderoso, potente, o macho-alfa da espécie. Não necessariamente deve ser uma cueca nova por noite, mas essencialmente deve ser uma cueca deste ano. Um modelo velho de cueca é, para as mulheres, desanimador (a não ser que seja a cueca que o Frank Sinatra usou, que ela seja vintage, que ela tenha uma história). Ademais, um modelo velho de cueca mostra que o cara não tem vaidade, não tem sex appeal, não está conectado com uma referência de beleza. Mostra que ele veste qualquer coisa, mostra um certo relaxo consigo mesmo e com a expectativa que pode causar à parceira. (Ok, estou escrevendo considerando um casal heteressoxual, que é uma coisa mais cheia de regrinhas, mas cada um que adapte a sua realidade; gays, obviamente, tem mais liberdade neste setor).
(2) As cores masculinas. Esse tema é complexo. Afinal, a construção do gênero é muito pautada em “meninos são azuis”, “meninas são rosa”. Em tempos de politicamente correto, de redução da desigualdade entre gêneros, e da valorização da diversidade, chega a ser antiquado dizer que as cuecas boas para a hora do sexo são somente as brancas, pretas, cinzas e vermelhas (ok, azul escuro e verde escuro também podem). A questão é que é essa a opinião da maioria das mulheres empiricamente entrevistadas. Pelo menos durante a fase em que o casal está se conhecendo, se encontrando, tendo noites cheias de paixão, é bom jogar seguro. Vai nas cores básicas. Observa que – coitados dos homens! – as cores que expressam masculinidade são poucas, são sóbrias, denotam performance, qualidade, rigidez. Não dá para o cara aparecer com uma cueca amarela, laranja, verde-clara ou, pior, roxa. Marrom então, nem pensar! Nem seu avô fica bonito de marrom!
(3) As estampas e a modelagem. Por favor, sem estampas. Cueca boxer, que serve bem a maioria dos homens, não vem com estampa (yay!), então mais um bom sinal de que ela está no campo seguro de que vai agradar. Ela pode ter listras, sim, é possível – desde que essas listras sejam largas e em tom-sobre-tom, isto é, cores próximas a cor principal de uma das listras. Já as estampas somente são permitidas para as samba-canção (que estão longe de serem um modelo aceitável, mas dos males o menor). Aliás, as cuecas samba-canção só se você pesar mais de 100kg em massa gorda e aí essa cueca de fato é confortável e vai te deixar mais gato, mais proporcional ao corpo. E, se for este o caso, as estampas devem ser pequenas (mas isso não é uma regra absoluta, é só uma recomendação de consultoria de moda para todos os gordinhos). Estampas mais florais, como hibiscos, só se você for surfista ou o casal já se conhecer há mais de 3 anos e estiver viajando pela Indonésia. No dia-a-dia, na cidade, em meio a selva de concreto, cabe bem ser um pouco urbano por dentro também.
(4) Os escritos na lateral. Eu não gosto. Acho que só o Calvin Klein gosta, e a Zorba e a Lupo – que muitas vezes se inspiram na CK – gostam. E o Justin Bieber, garoto-propaganda da Calvin Klein deve gostar também. A questão é: você é um outdoor de grifes? Não. Então não ostenta a grife na cintura. É feio, é coisa de gente emergente, coisa de pobre metido a rico. Eu não vou ostentar as grife Loungerie, Farm, ou Duloren (pra citar as que mais compro) no meio da relação, porque elas não estão na relação com a gente (elas são uma escolha minha, particular, no ato da minha compra de underwear). A marca deve ser discreta, sutil ou invisível. É esse o ponto: não precisa fazer um ménage à trois com a marca da cueca.
(5) Os materiais. Reza a lenda que selinho da bike deixa o homem impotente, reza a lenda que cueca deve ser de algodão para as partes íntimas respirarem… Bem, isso tudo é em parte verdade. A outra parte da verdade é que há uma preocupação social exacerbada de que nossos machos-alfas não tenham nenhum aspecto de sua masculinidade e potência interferida na perpetuação da espécie. A cultura machista e o culto do macaco da bola azul é tão grande, que é reiterada toda uma ciência de botequim para que nada atrapalhe a vida de seus lindos espermatozóides. E aí a gente fala de algodão (fibra natural) e de poliéster e poliamida (fibras sintéticas). A tese é que a fibra natural faz bem para os espermatozóides, e as fibras sintéticas prendem a circulação – bem, um tanto de bobagem. Gostaria de desmistificar isso:
(4) A “portinha”. Isso é um detalhe muito funcional e muito amoroso. Vamos ser francos: para que serve aquela discreta abertura frontal da cueca? Oras, para o macho-alfa mijar em pé em algum local ermo, inóspito ou inadequado, sem ter que se dar ao trabalho de desabotoar calça e baixar a cueca. É uma facilidade e tanto! Excelente. Se eu fosse homem, só compraria cuecas com “portinhas”. Ainda mais se eu tivesse uma namorada que enxergasse o potencial uso desta abertura para outros fins. Em outras palavras: a abertura frontal da cueca facilita o sexo oral ocasional. Usem essa informação a seu favor. Inclusive deem essa ideia nas suas parceiras, afinal nem toda mulher repara nesse discreto detalhe da cueca. Para que esse tipo de situação possa ocorrer, vocês – rapazes – precisam aprender uma coisa com a gente – mulheres – que é fazer um charme, fazer um doce, dar bobeira, isto é, sente com as pernas abertas e olhe para sua parceira com um olhar mais provocativo, faça algum sinal, dê uma dica, mas não faça nada – a ideia é que você seja o “passivo” e que a portinha conte a seu favor.
(5) A ousadia. O que é uma cueca ousada e igualmente aceitável na hora h? Bem, uma cueca ousada combina com um cara ousado. Uma cueca criativa combina com um cara criativo. A criatividade e a ousadia estão nas cores, nos formatos e nas estampas. Vou ter que ilustrar isso com um dos meus ex-namorados (o mais tatuado, o mais viajado, o mais ser humano, o mais criativo, com quem eu namorei mais de 4 anos e que até hoje é um excelente amigo). Não vem ao caso expor o comparativo da questão sexual, digamos assim (afinal, como diria o escritor García Marquez, as “coisas não são como aconteceram, mas como nós lembramos” – e aí se o ex era um canalha bom de cama, a lembrança amarga dos vacilos dele vai dar a conotação de que as noites foram horríveis e mentirosas; da mesma forma o contrário, às vezes o cara nem era tão excepcional, mas foi parceiro de verdade, e isso o faz o melhor de cama no conjunto de boas lembranças dele como ser humano), pois bem, mas este ex-namorado era um cara descolado, cool demais, todo diferente.
Consequentemente, suas cuecas eram diferentes e nele tudo ficava bem (embora eu achasse estranho pra mim, conseguia separar as coisas, que era a cara dele, que combinava nele). Pra um cara desses, todo vanguardista, não faz sentido algum usar uma cueca boxer preta ou branca – seria extremamente aborrecedor, burocrático, óbvio. Um cara ousado usa uma samba-canção-shortão das mais variadas cores, estampas e comprimentos. E ele pode. Agora, por outro lado, verdade seja dita em prol das mulheres: o hábito não faz o monge. Entendem? Não, não entendem, tanto não entendem porque não fazem, ou só fazem no começo do relacionamento ou em algum dia excepcional em que o time de futebol é campeão: um sexo oral antes na mulher é fundamental.
(6) O imaginário. A cueca é apenas uma ferramenta, é apenas um item de vestuário. Poderia ser a folhinha de Adão cobrindo as vergonhas. Poderia ser um tingimento de urucum embelezando a pele nua do índio. Ou seja, gostaria de desmontar todos os argumentos construídos até aqui, de que uma boa e discreta cueca boxer faz a diferença. Não, ela não faz a diferença, ela só ajuda o homem cosmopolita que não sabe nada de moda a estar bem vestido pra cama, da mesma forma como ele bota um tênis para correr. A real da vida está na nossa cabeça, na nossa imaginação.
Não existe sexo bom com um sujeito depressivo, abusivo, falso, etc., um cara cuja mente está inclinada a sabotar ou destruir o relacionamento (bom, até que existe, mas depois você, mulher, vai se sentir mal, vai perceber que foi mal amada, etc.; o saldo final é negativo). A questão de um bom sexo tem a ver com alimentar o desejo pelo parceiro/a e por si mesmo/a. Você simplesmente tem que dar um jeito de se sentir sexy, auto-confiante – e se, para tanto, é necessário usar recursos como cinta-liga, calcinha fio dental, luvas, algemas, etc., beleza, vai fundo, é a sua expressão – em termos de moda/vestuário – da sua libido, da sua sexualidade. Não há regras (salvo a proibição da calcinha bege e da famigerada cuequinha). Em termos mais abrangentes, e em termos mais humanos, o coração da questão está em manter lealdade ao parceiro, cultivar essa lealdade, cultivar o cuidado, desejar o bem do outro em toda a sua expressão. É puramente imaginação – no começo da relação, é algo inevitável (você simplesmente sente desejo, quer encostar, tocar, pegar, etc.; você praticamente não controla seu corpo).
Reza a ciência que isso dura até uns dois anos. Depois, o corpo sossega o facho, e passa a ser uma escolha, uma construção, passa a ter uma finalidade: “vou tratá-la bem porque eu desejo o bem dela, ela é a mulher da minha vida, ela é linda, eu gosto de elogiar ela, e eu escolhi trepar gostoso com ela para sempre.” Ponto final.
E viveram felizes para sempre todas as cuecas do mundo. The End.
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A cueca é apenas uma ferramenta, é apenas um item de vestuário. Poderia ser a folhinha de Adão cobrindo as vergonhas.
A cueca ideal é aquela que você usa e nem lembra que está com ela.
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