Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Pedro Janot, CEO da Contravento e ex-presidente da Azul Linhas Aéreas
Pedro Janot, CEO da Contravento e ex-presidente da Azul Linhas Aéreas

Considerado um dos mais experientes executivos do varejo brasileiro, o carioca Pedro Janot, 56 anos, também tem se tornado um símbolo de superação. Ele já passou por empresas como a Lojas Americanas, presidiu a Richards e e trouxe ao País a espanhola Zara. Em 2011, época em que pilotava a companhia aérea Azul, sofreu uma grave lesão na medula ao cair de um cavalo. O acidente o deixou paralisado do pescoço para baixo, mas não tirou sua motivação empresarial. Janot passou para o conselho de administração da Azul, reinventou sua carreira e criou uma consultoria, a Contravento. Atualmente, percorre o País fazendo palestras e ajudando varejistas a aprimorar seus processos de gestão. Em uma dessas andanças, em um encontro com empresários gaúchos promovido pelo Sindilojas, Janot falou à DINHEIRO sobre como as empresas devem se comportar na crise. “O brasileiro é, por natureza, indisciplinado e a gestão das empresas reflete isso.”

Considerado um dos mais experientes executivos do varejo brasileiro, o carioca Pedro Janot, 56 anos, também tem se tornado um símbolo de superação. Ele já passou por empresas como a Lojas Americanas, presidiu a Richards e e trouxe ao País a espanhola Zara. Em 2011, época em que pilotava a companhia aérea Azul, sofreu uma grave lesão na medula ao cair de um cavalo. O acidente o deixou paralisado do pescoço para baixo, mas não tirou sua motivação empresarial. Janot passou para o conselho de administração da Azul, reinventou sua carreira e criou uma consultoria, a Contravento. Atualmente, percorre o País fazendo palestras e ajudando varejistas a aprimorar seus processos de gestão. Em uma dessas andanças, em um encontro com empresários gaúchos promovido pelo Sindilojas, Janot falou à DINHEIRO sobre como as empresas devem se comportar na crise. “O brasileiro é, por natureza, indisciplinado e a gestão das empresas reflete isso.”

DINHEIRO – O varejo é um dos setores mais afetados pela retração econômica. Há alguma perspectiva de melhora?
PEDRO JANOT  – 
O primeiro semestre foi muito ruim mesmo. Foi uma loucura. Todo mundo sem saber para onde correr, olhava para o governo e não encontrava nenhum sinal de melhora. Só o ministro Joaquim Levy dava a cara para bater. Mas acredito que a gente cruzou uma fronteira muito difícil. No segundo semestre, as notícias ruins começaram a se acomodar. Dia após dia, a tendência é de que o mundo econômico comece a separar-se do mundo político. A previsão é de queda do PIB, mas não significa que as pessoas vão parar de consumir.

DINHEIRO – A crise foi agravada pela instabilidade política?
JANOT –
 Com certeza. O governo conseguiu azedar a economia. Isso causa muita incerteza e derruba a vontade do consumidor em sair às compras e das empresas em investir. Tudo se transformou em um grande período de más notícias, com forte queda na produção industrial e demissões. Com um governo sem agenda, criou-se um mal-estar desnecessário por falta de habilidade na condução do País. A disparada da inflação bateu forte no bolso das famílias.

DINHEIRO – Essa recessão tem alguma semelhança com as que o País já atravessou?
JANOT – 
Crise é crise em todo lugar. Nós já vivemos todos os tipos de crise. Mas tenho absoluta convicção de que essa turbulência econômica seria muito menor se não fossem os componentes políticos. Os escândalos da Lava Jato e toda dificuldade do ministro Levy em aprovar os ajustes foram como gasolina na fogueira.

DINHEIRO – Qual será o legado da Lava Jato? 
JANOT – 
O Brasil, infelizmente, só cresce em sustos e soluços. Houve um crescimento muito grande das instituições no impeachment do Collor. Não cresceu no Mensalão, mas vai crescer institucionalmente na Lava Jato, que terá a mesma proporção da operação Mãos Limpas, que praticamente exterminou a máfia na Itália. A Polícia Federal e o Ministério Público estão muito bem sintonizados para resistir às pressões e não voltar atrás. Apesar de toda dor, será ótimo para o Brasil. Institucionalmente, o País vai sair melhor dessa.

DINHEIRO –  Onde o governo errou?
JANOT – 
Olha, faltaria espaço para descrever todo erro. Em resumo, o pior de todos foi a presidente Dilma Rousseff fazer tudo ao contrário do que disse que faria, durante sua campanha. O desapontamento dos brasileiros gerou incerteza, instabilidade e afetou a confiança no futuro do País. Então, criou-se um vácuo na cabeça das pessoas. Isso impactou demais o consumo. A crise teve mais origem na falta de confiança do que nos próprios fundamentos econômicos. Inicialmente, ninguém entendeu o que estava acontecendo.

DINHEIRO – Mas nem todas as empresas sentiram a crise...
JANOT –
 Está difícil achar quem não esteja sofrendo. Mas existem, sim, empresas indo bem. É o caso da Renner, que continua crescendo a dois dígitos, mesmo com esse cenário adverso. A previsão da empresa para este ano é de crescer mais do que em 2014. Não podemos dizer, no entanto, que algumas companhias não sentiram. Quem está crescendo a um ritmo de 20% ao ano, poderia estar a 40%,  não fosse a crise. Não podemos subestimar a crise porque ela é real: há  empresa perdendo 10% enquanto suas concorrentes estão crescendo 20% ou 30%.

DINHEIRO –  Quem está sofrendo mais?
JANOT –
 Quanto mais a empresa estava ligada à classe C, mais está sofrendo agora. Esses consumidores subiram ao paraíso nos últimos anos e, agora, estão descendo ao inferno. É a classe que mais está sentindo a queda da economia. Toda essa inflação não está prejudicando os ricos. Os problemas atingem mais os pobres, que dependem de crédito, se enroscam no cheque especial, adiam a quitação do cartão de crédito para não deixar cortar a luz por falta de pagamento. São mais dependentes do emprego.

DINHEIRO – Quem diversificou menos seu público-alvo  está mais bem posicionado?
JANOT –
 Sem dúvida. Quem entregou o que prometeu, com mais consistência, disciplina e planejamento, hoje colhe os frutos.

DINHEIRO – Existem ferramentas para amortecer os efeitos da recessão?
JANOT – 
Dias atrás, visitei um shopping e entrei em algumas lojas. Na primeira sensação ao cruzar da porta para dentro já fica claro o motivo de muitas redes varejistas estarem em crise. Sob a ótica do visual, do som ambiente, da disposição das prateleiras, da escolha das coleções etc. O alinhamento de todos esses fatores precisa ser estudado para não espantar o cliente. São poucas as lojas que sabem fazer bem esse trabalho.

DINHEIRO – Quais são os erros mais comuns do varejo? 
JANOT – 
O Brasil cresceu muito desde 2002. A expansão foi muito rápida e muitas companhias não souberam se adaptar. As grandes empresas, especialmente no varejo, cresceram na carona da oportunidade e deixaram de lado os seus processos. Poucas redes sabem treinar bem seus funcionários. Sem perceber, perderam o foco. Queriam vender de tudo a todos. Quem tenta vender tudo a todos, não olha para ninguém. As redes varejistas não sabem o que  querem ser. Acabaram se perdendo.

DINHEIRO –  Dê um exemplo de quem está fazendo a lição de casa...
JANOT – 
A Renner, citada antes, está fazendo um trabalho consistente, há anos, que faz com que o consumidor enxergue uma equação de valor em seus produtos. O que é valor? É a soma de preço e benefício. É um trabalho de muitos anos. Leva tempo. É preciso ativar a percepção de valor nos consumidores. As empresas não podem negligenciar os detalhes numa hora difícil como a atual.

DINHEIRO – Além da Renner, quem está fazendo um bom trabalho?
JANOT –
 A grife Richards é uma companhia  que tem um posicionamento definido há mais de 40 anos e, atualmente, está apresentando um ótimo desempenho. A marca é sempre muito bem-sucedida em períodos de crise porque consegue, mesmo com a retração das vendas do varejo, manter uma percepção de valor muito boa diante de seu consumidor. Dentro do grupo Inbrands, a Richards é sempre o último barco a parar. Outro exemplo, embora eu seja suspeito para falar, é a Azul. Apesar de ter sentido a queda nas vendas corporativas, se você olhar para os balanços da TAM, da Gol e da Azul, fica claro que as estratégias de cada uma são distintas. A Azul é muito mais eficiente sob todos os aspectos. A empresa fez um trabalho muito eficiente de humanizar o atendimento, tirando o foco da turbina. Os pilotos falam pouco porque não interessa saber qual é a altitude do avião ou a temperatura de -70ºC. A quem interessa? Isso só ajuda a causar mais medo em quem não gosta de voar.

DINHEIRO – Reduzir preços não é mais eficiente para ampliar as vendas, em tempos de crise? 
JANOT –
 Entre 30% e 40% de tudo que o varejo brasileiro compra da indústria acaba em liquidações com margens minúsculas ou nulas. Isso é falta de gestão. As empresas não sabem comprar, gastam além do necessário e queimam suas margens em saldões. O empresário consegue vender seus produtos, mas não consegue acelerar seus resultados. Há presidente de empresa que não conversa com seus funcionários, não conhece seus consumidores, não tem a mínima noção do que está vendendo. Daí a empresa começa e encolher, e ele culpa a crise. Não dá. A crise vai nos mostrar quem é homem e quem é menino na gestão das empresas.

DINHEIRO – O fast fashion é uma ameaça ao varejo tradicional?
JANOT – 
O fast fashion é uma estrutura de gestão de varejo que traz duas lições importantes: a otimização dos itens que não podem faltar, com pouco estoque, e a renovação visual da loja com a reposição dos produtos. É preciso ter inteligência para gerir uma rede de fast fashion. A chegada de companhias internacionais, a partir da Zara, em 1998, obrigou as redes tradicionais a se mexer.

DINHEIRO –  Essa crise pode, de alguma forma, ser boa para o varejo no futuro?
JANOT – 
Acredito que sim. A crise vai forçar as empresas a buscarem mais produtividade. Um  funcionário americano é seis vezes mais produtivo que um brasileiro. Não é culpa do empregado. É culpa da empresa que é desorganizada e ineficiente. O Brasil continua muito caro para se fazer negócio. O País terá de passar por um rearranjo.

DINHEIRO –  Essa desorganização é cultural?
JANOT – 
O brasileiro é, por natureza, indisciplinado. A gestão das empresas reflete isso. Os líderes não gostam de tomar decisões porque elas implicam em riscos. Quem não faz, não erra. Então, é melhor não fazer. Não há pragmatismo. Percebi isso depois de trabalhar em companhias europeias e americanas. Elas vão no que interessa, enquanto nossa cultura é burocrática. Nesse ponto, a crise será educativa para nós.

DINHEIRO – Há uma cartilha para o varejo?
JANOT –
 Não existe. As empresas ficam muito presas à hierarquia e se esquecem da produtividade. Nós não vemos muitas empresas atuando de forma horizontal. Quando se tem muito chefe mandando, a eficiência se perde no meio do caminho. A cultura está se modernizando, mas ainda não é maioria. Chegou a hora de superar desafios, deixar a Lava Jato no campo criminal e político, e reaprender a trabalhar.

DINHEIRO – Em suas palestras, o sr. fala muito em superar desafios. Isso tem relação com seu atual momento? 
JANOT –
 Sim. É um desafio diário manter minhas atividades profissionais. Faço cinco horas de fisioterapia por dia. Metade pela manhã e a outra parte no final da tarde. Entre uma sessão e outra, entre 11h e 16h, visito clientes da minha consultoria, a Contravento, criada depois do acidente que me colocou numa cadeira de rodas há três anos e meio. Mas o desafio é o que me mantém ativo. Recuperei parte dos movimentos dos braços. Tenho evoluído.

DINHEIRO – O nome da sua consultoria, a Contravento, também está relacionado aos seus desafios pessoais?
JANOT –
 Eu fui iatista bicampeão brasileiro, em 1975 e 1976. Naquela época, a categoria laser  equivalia, no barco, ao  kart para os pilotos de Fórmula 1. Eu era muito jovem. Velejei a vida toda. Para mim, a vida empresarial é uma regata em que o mais difícil é o contravento. É o vento mais estressante, quando se enfrenta as ondas de frente. A vida é isso.

http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/entrevistas/20150820/crise...

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Respostas a este tópico

   Entre 30% e 40% de tudo que o varejo brasileiro compra da indústria acaba em liquidações com margens minúsculas ou nulas.

O problema é vamos ter uma saída sim, mais quando? porque eu já não encontro uma saída, ou não vejo uma saída a curto prazo, eu já não tinha nada ou quase nada! o que faço quem errou, e para encontrar  este ou aquele, ninguém quer assumir nada, enfim quem vai pagar sou eu e tantos outros pequenos que existe lutando para um dia ter um final feliz! este é o final que nos deu.

Djalma pereira dias

Quem tenta vender tudo a todos, não olha para ninguém."   Acredito muito nessa frase do Sr Pedro Janot. Essa "insensibilidade" e egoismo, que impera em grande parte das negociações no nosso setor, me deixa um pouco desanimado em meu trabalho. Vejo as pessoas "esquecendo" o seu caráter dentro da gaveta e tentando ludibriar os clientes somente para conseguir uma venda. Aonde estão os profissionais do nosso setor ? E cada um tentando engolir o outro. Sem o mínimo respeito. 

E comentando sobre o cenário político do Brasil, "o que dizer sobre a falta de punição dos nossos políticos e funcionários adjacentes" ? Essa país é uma vergonha, com relação à nossa política.

 

O nosso pais é de gente acolhedora amiga e de sociabilidade meiga e  aguçada, porem com sede de justiça e não diferem do que esta si passando, estamos prestando atenção, a justiça com certeza vai prevalecer e  eles pagarão!....

Djalma  pereira  dias  

Fui HOMEM por mais de 30 anos.
Por essa definição, virei menino, engatinhando.
Mas, ainda me movendo.

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