Texto de Lia Carolina Prado Alves*
A EXPOSIÇÃO NACIONAL DE 1908
Em 1908, em comemoração ao centenário da vinda da família real portuguesa para o Brasil e a abertura dos portos brasileiros, foi realizada no Rio de Janeiro, na Praia Vermelha, bairro da Urca, no período compreendido entre 28 de janeiro e 15 de novembro, “uma grande exibição de bens naturais e produtos manufaturados, oriundos de diversos estados brasileiros.[1]Foi uma oportunidade para a iniciante atividade industrial brasileira mostrar seus produtos e, com isso, possibilitar “um inventário da economia do país.” (idem).
A Exposição Nacional celebrava o processo de inserção de todo o país em um modo de vida urbano, industrial e cosmopolita”, explica a curadora da exposição Margareth da Silva Pereira.[2]
TAUBATÉ E A EXPOSIÇÃO NACIONAL DE 1908
Em São Paulo foi organizada uma exposição preparatória de produtos brasileiros que serviu de prévia para a grande Exposição Nacional realizada no Rio de Janeiro. A Comissão Executiva era composta dos Senhores: Doutor Sérgio Meira, A. Ramos e como Presidente Diretor A. Barros Barreto.
Com o apoio do Governo Federal pretendia tornar conhecidas as indústrias brasileiras permitindo que os Estados permutassem entre si seus produtos evitando a importação, o que era praxe acontecer.
Foram organizadas as seguintes Comissões Secionais: Educação – Belas Artes – Artes Liberais – Manufaturas – Máquinas – Eletricidade – Transporte – Agricultura – Horticulturas – Silviculturas – Minas – Metalurgia – Cartografia – Pesca e Caça – Higiene – Engenharia Sanitária – Antropologia – Comércio – Economia Social – Cultura Física – Trabalhos de Senhoras – Café e Alimentação e Higiene dos Animais Domésticos.
Dessas Comissões destacou-se a do Comércio, composta pelos bacharéis J.Z. Ferreira Velloso, Pércio de Sousa Queiroz e J.B. Leal Costa, que tinha como idéia confeccionar um catálogo onde haveria um grande destaque para o Comércio e Indústria do Estado de São Paulo.
A Comissão do Comércio seguiu para a Exposição do Rio de Janeiro com uma publicação da Indústria e Comércio do Estado de São Paulo, justificando assim o programa da Comissão Executiva da Exposição.
O Estado de São Paulo foi dividido em cinco (5) circunscrições distribuídas numa publicação que recebeu o título de Mapa Rotineiro onde estavam organizadas as instruções aos emissários. Enérgicos e ativos esses auxiliares seguiram para o interior.
Em março de 1908, estiveram em Taubaté as senhoras Elisabeth Malfatti e Dalila Barroso de Sousa como emissários da Seção de Trabalhos de Senhoras. Foram recepcionadas pelo Cônsul italiano residente na cidade, o Senhor Comendador Rosalbino Santoro. Elisabeth Malfatti era mãe daquela que viria a ser uma das maiores artista brasileira: Anita Malfatti.
Em Taubaté o maior incentivador dessas exposições foi o industrial Félix Guisard. Apresentou sua indústria – Companhia Taubaté Industrial – C.T.I. na exposição de São Paulo, visando a participação na grande feira nacional.
Nessa época a capacidade produtiva diária da fábrica de tecidos era a seguinte:
Fiação: 4.000 metros de tecidos;
1.200 metros de cadarço;
750 quilos de fios n.ºs 2 a 40;
100 dúzias de camisas de meia;
200 dúzias de meias ordinárias;
100 a 60 dúzias de toalhas felpudas;
12 dúzias de meias sem costuras;
36 xales de algodão
Organizou no Salão do Industrial Futebol Clube, pertencente à própria C.T.I. uma exposição dos produtos fabricados pela Companhia, destinada ao público taubateano para que melhor viesse a conhecer esses produtos.
Dentre os inúmeros produtos o que mais chamou a atenção do público foram as toalhas felpudas, simples ou “à fantasia”.
Essas toalhas felpudas tinham as seguintes referências:
- n.ºs 60 e 100 alvejadas;
- 100 esponja;
- 150 alvejadas;
- 200 alvejadas;
- 200 com barra
- 350 alvejadas;
- 350 com barras;
- 351 toda de cor;
- 355 duas cores;
- 359 xadrez;
- 900 para banho
- 1.000 para banho
Eram produtos de ótima qualidade rivalizando com as importadas. “Nesse gênero foi a primeira fábrica no Brasil que estava preparada para fornecer ao mercado artigo tão superior; não se tinha notícia de outra”.
Os outros produtos expostos foram:
Camisas de meia: Cruas, n.ºs 1.400 – 1.700 - 2.200 – 3.000 – 3.200 – 3.600 – 4.000 e 4.500
Zita com gola; Beija-flor; Carioca; Vencedoras; Ciclistas; Populares; Pretas 22;
Riscadas B.; Carijó; Taubateanas; Colombo; Sul-Americanas; Marinha;
Marinheira; Sul-Mescla; Piquê; Couraçadas; Listradas; Fantasia; Alvejadas;
Granadeiras.
Meias: Cruas, n.ºs 12 – 19 – 22 – Pretas 22; Mescladas; Meias 3 fios; Meias C.; Carijó;
Pretas 3 fios.
Riscados: R. 14 B., metro $420,000
R. 14 C., metro $480,000
R. 14X. , metro $510,000
Riscado Taubaté, metro $640,000
Xales: n. º 6.000, dúzia 40$000
Cadarço: Cadarço, metro, $025,000
No “Boletim” oficial publicado pela Exposição preparatória de São Paulo esses produtos tiveram“as mais elogiosas possíveis referências” com especial destaque para as toalhas felpudas “que constituíram verdadeira surpresa, pois ninguém sabia em São Paulo que houvesse tão boa fabricação desses artigos no próprio Estado.”
Na exposição do Rio de Janeiro os produtos apresentados pela C.T.I. receberam a medalha de ouro.
CRESCIMENTO DA C.T.I. E A CONSTRUÇÃO DA CHAMINÉ
Apesar de todo o brilhantismo da Exposição Nacional o cenário econômico brasileiro estava negativamente influenciado pela constante desvalorização que o comércio internacional do café vinha sofrendo.
Félix Guisard entusiasmado os sucessos alcançados e com as possibilidades que anteviu, percebeu que, para fugir daquele cenário desfavorável, haveria necessidade de uma atitude corajosa e arrojada.
No ano seguinte, em abril de 1909, no Relatório apresentado aos acionistas em assembléia geral ordinária, garantiu a solidez financeira da Companhia, arrolou o número de funcionários (370) e comunicou que “para aumentar a força motora da fábrica foi adquirido e montado um poderoso motor aperfeiçoado de Marshall: Sons & Cia o qual está funcionando perfeitamente com vapor produzido pela antiga caldeira marinha que foi novamente posta em trabalho; entretanto teremos necessidade de adquirir novos geradores de vapor capazes de fornecer a suficiente ao grande motor para o desenvolvimento de toda a força de que é capaz.”
Em agosto desse mesmo ano foi publicado no Jornal de Taubaté a seguinte notícia:
“Sabemos que a Cia. Industrial acaba de fazer aquisição de uma excelente caldeira, cuja força de 300 cavalos, provavelmente será aproveitada para auxiliar o movimento dos maquinismos do estabelecimento fabril daquela conceituada Cia..
A caldeira, que veio de acreditado estaleiro europeu, está sendo convenientemente montada.”
Em 1910, houve a necessidade de uma reorganização da Cia.
Os então acionistas da Cia. : Dr. Rodrigo Nazareth de Souza Reis, Braz Salvador Curtu, Antonio Marcondes de Moura, José Benedito Marcondes de Mattos, Félix Guisard, Jane Guisard, Virgílio de Aguiar, Julião Teixeira dos Santos, Marie Caillaud, herdeiros de Victor Guisard, Maria Nazareth de Souza Reis, Francisco Benfica de Menezes, Theophilo Guisard, João Batista Guisard, Maria Nazareth de Aguiar – em assembléia geral extraordinária - aprovaram a determinação do aumento o capital da Cia. com a adesão de novos acionistas, reformulação dos estatutos e o empréstimo de 400:000$000 (quatrocentos contos de Réis).
Os subscritores de ações referentes ao aumento de capital foram:
- Edward Ashworth & Co. – mil e quatrocentas ações………………………….. 280:000$000
- J. W. Applin – cem ações………………………………………………………………. 20:000$000
- A. H. A. Knox Litte – cem ações……………………………………………….. 20:000$000
- J. A. Mutzenbecher – cem ações…………………………………………………….. 20:000$000
- C. D. Simmons – cem ações…………………………………………………………… 20:000$000
- John F. Shalders – cinqüenta ações……………………………………… 10:000$000
- H. E. Gwyther – cinqüenta ações…………………………………………….….. 10:000$000
- C. Henderson – cinqüenta ações……………………………………………………… 10:000$000
- E. L. Harrisson – cinqüenta ações……………………………………………………. 10:000$000
Após essa feliz manobra financeira Félix Guisard viajou para Manchester, na Inglaterra, onde foi pesquisar e adquirir maquinário textil para a C.T.I. A escolha da cidade foi arquitetada: Manchester teve um papel primordial na Revolução Industrial, pois foi lá aplicada a máquina a vapor à indústria têxtil pela primeira vez em 1789.
Seu retorno, três meses após, foi dia de festa em Taubaté. Uma comissão de operários, encabeçada por João Fava Saraiva, organizou uma grande recepção:
- as 5:00 h da manhã a população foi acordada com o som da corporação “João do Carmo” que, percorrendo a cidade, tocou os “mais belos dobrados”;
- nesse romper do dia musical o pavilhão dos operários foi içado na fachada da Fábrica;
- ao meio-dia, o operariado dirigiu-se à Catedral onde o vigário geral do Bispado, Monsenhor Castro, benzeu o estandarte e num discurso inflamado saudou os operários, apadrinhados pelo Sr. Félix Guisard Filho;
- da Catedral o cortejo dirigiu-se à estação ferroviária onde a imprensa estava presente e uma multidão de mais de sessenta pessoas aguardava sua chegada.
A descrição da chegada, registrada pelo O Norte, fala por si:
“Ao silvar da locomotiva, que anunciava a entrada do rápido, o operariado, que então já se achava unido a uma possante multidão, rompeu em delirantes ovações ao estimado industrial. Parado o comboio e feito pequeno silêncio, saltou o Sr. Félix Guisard que foi recebido pela multidão que o aclamava, ao som da banda “João do Carmo”. Após os cumprimentos do estilo formou-se imponente préstito que seguiu para a residência do ilustre viajante que é uma confortável e aprazível vivenda, sita a Avenida Tindal.”
http://www.almanaqueurupes.com.br/portal/textos/a-chamine-da-c-t-i/
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