Setor, que terminou 2015 com queda de 3,9%, estima recuperação de 4,9% com a disparada do dólar e diminuição no volume de importações
Produção física de tecidos deve crescer 9% neste ano, chegando a 2,08 milhões de toneladas
A Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit) projeta um crescimento de 4,9% no faturamento em 2016 em reais, resultado que interrompe uma série negativa que vem desde 2013. Dados divulgados pela entidade nesta semana mostram que o valor caiu 3,9% de 2014 para 2015 - de R$ 127 bilhões para R$ 121 bilhões -, e deve se recuperar aos mesmos R$ 127 bilhões neste ano. A disparada da cotação do dólar desde 2015 deve ser a maior responsável, porque tende a diminuir as importações e dar fôlego para os fabricantes nacionais, mesmo diante da queda no consumo provocada pela crise.
A entrada de confecções estrangeiras no País já diminuiu 17,4% no ano passado, ao passarem de US$ 7,08 bilhões para US$ 5,85 bilhões, conforme a Abit. Mesmo com a queda de 8,2% nas exportações, que foram de US$ 1,18 bilhão para US$ 1,08 bilhão no mesmo comparativo, o setor comemora a tendência de menor participação de importações no mercado nacional. Para 2016, a expectativa é de nova retração de 22,4% nos desembarques de produtos no Brasil e de alta de 1,5% nos embarques ao exterior.
Apesar do resultado positivo, é preciso também considerar que a disparidade entre o dólar médio em 2014 e 2015 foi muito grande. Segundo o Banco Central, a cotação da moeda aumentou 42% em um ano, o que prejudica uma análise quantitativa em relação à receita do setor. Se o faturamento caiu somente 3,9% em 2015 ante o ano anterior em reais, na moeda norte-americana a diferença foi negativa em 32,4%, ou de US$ 53,6 bilhões para US$ 36,2 bilhões.
Mesmo assim, o presidente da Abit, Rafael Cervone, projeta o crescimento pela substituição a importados. "Acreditamos que, em 2016, teremos uma substituição de importações de produtos têxteis de aproximadamente 200 mil toneladas e de 200 milhões de peças, no que diz respeito ao setor de vestuário", explica, em nota.
Boa notícia para um País em crise econômica e com retração no número de empregos e no consumo interno. O varejo de vestuário teve queda de 8% ante 2014, de 7 bilhões para 6,45 bilhões de peças, e deve continuar na descendente em 2016, até 6,15 bilhões de unidades (-4,8%).
Em um primeiro momento, porém, a Abit considera que a indústria têxtil será o responsável pela recuperação no faturamento do setor. A produção física de tecidos deve crescer 9% neste ano, de 1,9 milhão em 2015 para 2,08 milhões de toneladas neste ano. A etapa seguinte da cadeia, de confecções, ainda deve sofrer queda de 5,5 bilhões para 5,4 bilhões de peças.
Para o economista Roberto Zurcher, da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), a expectativa da Abit é um pouco otimista demais. "O que terá é uma recuperação causada pelo câmbio. Existe uma ociosidade na produção das indústrias, mas é a recuperação de um espaço perdido pelo Brasil, que perdeu muito espaço nos últimos anos", diz.
A corrosão da renda do consumidor, com os aumentos do desemprego, da inflação, de impostos e de tarifas públicas, deve continuar em 2016, diz o economista. "A cotação do dólar ajuda pela substituição de importados por produtos nacionais, mas é preciso reduzir a burocracia para exportações, melhorar em questões como infraestrutura e custos de energia e combustíveis, para então falarmos em crescimento do setor", completa Zurcher.
No Estado
Coordenadora do Conselho Setorial Têxtil da Fiep, Luciana Bechara diz que o Paraná não teve um ano de retração como o restante do País. "Nos números de empregos dos três primeiros trimestres do ano passado, o Estado foi o que menos demitiu, diferentemente de outros grandes centros do setor como Santa Catarina e São Paulo, então acreditamos que devemos fechar 2015 com estabilidade", diz, ao lembrar que os números regionais ainda não foram divulgados.
Luciana lembra que os contratos de importação e exportação costumam ser longos, o que faz com que o reflexo nos números demore. Por isso, diz estar otimista que o Paraná cresça até mais com a substituição de importados. "De 2008 a 2014, diminuiu o número de empresas no País e ficou em torno de 13 mil desde 2010, enquanto as nossas aumentaram de 845 para 954 no mesmo período", conta, ao citar dados da Fiep.
Fábio Galiotto