«Estamos a começar a ver a luz ao fundo do túnel», afirma Rafael Cervone, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e da Confeção (ABIT), ao portal Just-style, acrescentando que o crescimento real será de 1%, mas que as receitas nominais aumentarão 5% e que a produção deverá subir 4%. «Tivemos uma situação política muito difícil e ficámos muito preocupados, mas a confiança [na recuperação económica] está a crescer muito rápido», garante.
A indústria brasileira perdeu 30 mil postos de trabalho, para os 1,47 milhões, no ano passado, quando as receitas diminuíram 8%, com a economia do país a atingir o pico da contração nos 3,6% e uma inflação de 7%.
Agora, a economia deverá crescer entre 0,5% e 1%, as vendas a retalho e as exportações deverão aumentar 2% e 7%, respetivamente, segundo Cervone. Em 2016, caíram 10% e 8%, respetivamente, acrescenta.
De acordo com o executivo, os lucros e investimentos dos fabricantes também estão a consolidar-se, com margens de crescimento de 2% a 3% este ano.
As opiniões de Cervone foram divulgadas quando o juiz do Supremo Tribunal Federal Edson Fachin publicou a lista que envolveu o gabinete do presidente Michel Temer e do Congresso no escândalo da “Operação Lava Jato”. O conjunto de investigações em curso cumpriu já mais de mil mandados de busca e apreensão, de prisão temporária, de prisão preventiva e de condução coercitiva, visando apurar um esquema de lavagem de dinheiro que movimentou milhares de milhões de reais. A operação teve início a 17 de março de 2014 e conta com 40 fases operacionais, durante as quais mais de 100 pessoas foram presas e condenadas – situação que poderia ter minado os esforços para reestruturação da economia.
Questionado sobre se o caso, juntamente com o escândalo da carne contaminada, atingirá o sector de vestuário, Renato Jardim, diretor da divisão internacional da ABIT, responde que «mesmo que pessoas muito importantes tenham sido citadas na lista, a sociedade brasileira e os investidores já esperavam isso», pelo que será «pouco provável» que a indústria têxtil e vestuário sofra com os estilhaços.
«Somos conhecidos por ter padrões elevados e o nosso algodão é certificado em 90% pela Better Cotton Initiative [BCI]», aponta Jardim. Por seu lado, o presidente da ABIT, considera que o aumento do investimento deste ano irá modernizar o sector. «Temos investido na atualização das máquinas, especialmente para fiação, tecelagem e acabamentos especiais para denim, roupa de banho e têxteis-lar», enumera.
Isso inclui novas composições de tecidos no portefólio de jeans, que agora tem mais 250 categorias, refere o diretor da divisão internacional da ABIT. Renato Jardim prevê que as expedições globais cresçam 7% em relação a pouco mais de mil milhões de dólares no ano passado, quando encolheram 7,8%.
O Brasil espera que a recuperação económica da Argentina ajude a impulsionar o denim e outras categorias, enquanto o Paraguai deverá também aumentar as compras. «A Argentina é o primeiro mercado que esperamos recuperar, mas a estratégia é continuar a vender para a América Latina e Europa», explica Jardim.
Já Rafael Cervone revela que a ABIT está a pressionar Brasília para negociar acordos de livre-comércio com o México, EUA, Europa e Japão, para ajudar a abrir portas aos os produtos brasileiros. Simultaneamente, a ABIT está a exigir ao governo uma simplificação da burocracia, redução de impostos e melhorias nas condições de trabalho.