Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Países da África Oriental querem restringir importação de roupas de segunda mão

Uganda, Tanzânia e Ruanda pretendem restringir importações de vestuário em segunda mão para fortalecer a indústria têxtil nos seus países. EUA ameaçam com consequências. Chefes de Estado concordaram agora numa solução.

Uganda Altkleider-Händler auf dem Owino Markt (picture alliance/dpa/Y. Tylle)

Em 2015, países membros da Comunidade da África Oriental anunciaram que a partir de 2019, as roupas e sapatos em segunda mão seriam banidas dos seus mercados. Os Estados Unidos da América alegaram que esta medida violaria a Lei de Crescimento e Oportunidades para África (AGOA) que visa expandir o comércio e o investimento neste continente.

Em entrevista à DW, Rodgers Mukwaya, membro da Comissão Económica das Nações Unidas para a África (CEA) explica que "a maioria dos países da África Oriental pouco se beneficia da AGOA - com exceção do Quénia”. Ou seja, continua, "a AGOA não tem grande benefício. Portanto, qualquer proibição dos EUA não deverá ter grande efeito sobre as exportações da África Oriental".

Num encontro realizado na última sexta-feira (23.02), na capital do Uganda, Kampala, líderes dos países da Comunidade da África Oriental concordaram num compromisso em resposta à pressão de Washington: importações em segunda mão não serão proibidas diretamente, mas os impostos sobre estas importações terão de ser pagos.

 
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Países da África Oriental lutam pela proibição de venda de roupas em segunda mão

No comunicado de encerramento da reunião, os membros da Comunidade da África Oriental informaram que querem investir mais dinheiro na sua indústria têxtil, mas com medidas que não comprometam os benefícios da adesão à AGOA.

Crescem as importações da China

À medida que as roupas em segunda mão desaparecem gradualmente do mercado, a procura por roupas novas aumenta, o que significa também um maior número de importações da China, que já estão a inundar o mercado. De acordo com Rodgers Mukwaya, "no curto prazo, o déficit de roupas no mercado será coberto por novas roupas da Ásia. No entanto, a longo prazo, à medida em que desenvolvermos a indústria local, acreditamos que podemos assumir parte desse mercado. Mas é importante expandir a indústria têxtil”.

Entretanto, se os países da África Oriental realmente quiserem impulsionar a sua indústria têxtil ainda há muito trabalho a ser feito. O Ruanda previu que cerca de 25 mil novos empregos poderiam ser criados até 2019 se as importações de roupas em segunda mão fossem banidas. Mas até agora existem apenas onze empresas no país que produzem têxteis, juntamente com outras sete que fabricam sapatos.

Como constata Linda Calabrese, membro do Instituto para o desenvolvimento, com sede em Londres, "a capacidade de produção no momento é bastante limitada”. Segundo a especialista, "para que esse espaço seja preenchido é necessário que haja um grande apoio ao setor, muitas medidas complementares. E isso não tem nada a ver com a eliminação gradual", afirma.

Uganda Altkleider-Händler auf dem Owino Markt (picture alliance/dpa/Y. Tylle)

Comerciantes de roupas em segunda mão saúdam a não proibição completa da importação destes produtos

Já para os assalariados de baixa renda da Tanzânia, Ruanda e Uganda, a notícia de que países da Comunidade da África Oriental não proibiriam completamente as importações de roupas em segunda mão - pelo menos por enquanto - é um alívio. Michael Uwangye, de Kigali, Ruanda, por exemplo, vende roupas usadas no mercado. E explica que desde que o Governo aumentou os impostos de $ 0.20 de dólar por quilograma para $ 2,50 dólares, o seu negócio diário está cada vez mais difícil. "As vendas caíram muito. Agora, as roupas usadas são muito caras, custando duas ou três vezes mais do que antes. Se tivéssemos a roupa como antes, seria bom para os comerciantes e os moradores", garante.

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Roupa para os mais carenciados

A "Little Dresses for Africa" (LDFA) tem dado cor à vida dos meninos e meninas mais necessitados do continente. Desde 2007, esta organização humanitária com sede nos Estados Unidos junta voluntários em diversos países do mundo que confecionam peças de roupa destinadas a crianças carenciadas em países como Moçambique. Estas meninas da aldeia de Ndivinduane foram vestidas pela LDFA Portugal.

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Nascida no início de 2016, a delegação LDFA Portugal lançou-se ao trabalho e em três meses enviou mais de 500 peças para vários países africanos. Quénia foi o primeiro a receber ajuda, particularmente as crianças mais pobres de Kibera, a maior favela de África. Aqui, brincam ao lado de um verdadeiro esgoto a céu aberto e depósito de lixo.

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Embora a roupa seja um bem muito necessário, o vestido é muito mais que isso na vida destas crianças apoiadas pelo projeto português. As roupas transportam carinho e esperança, proporcionam autoestima e valorização, sabendo-se que, nestas comunidades, sobretudo as meninas são muito penalizadas por serem vítimas de abusos, gravidezes precoces e abandono escolar.

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Lisa Santos apaixonou-se pelo projeto e decidiu dar a cara por esta causa humanitária, ao criar a LDFA Portugal. A equipa dirigida por esta professora de piano, nascida em Moçambique, ascende a cerca de 150 pessoas. São todas voluntárias, dedicadas a fazer a diferença na vida das crianças fragilizadas, muitas vezes em situação de extrema carência.

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Identificar necessidades

Antes, a equipa trata de identificar potenciais beneficiários, através de outros projetos que trabalham com crianças, nomeadamente orfanatos, infantários e escolas comunitárias. Ou através de contatos e de missões em Portugal que partem para África com o objetivo de ajudar os menores mais carenciados das aldeias locais.

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Uma roupa para toda a semana

Apesar de ser um país de desenvolvimento médio, Cabo Verde também beneficia da ajuda da LDFA Portugal. "O que é certo é que há muita pobreza escondida", diz Lisa Santos, que visitou vários infantários na Páscoa deste ano (2017). Entre outros exemplos de carência, aponta casos de crianças que usavam a mesma peça de roupa durante a semana "porque não havia mais nada para vestir".

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Jantar solidário

Através da página no Facebook, há pessoas que se identificam com a causa e doam materiais para confecionar os vestidos. O grupo promove outras iniciativas, como o segundo jantar solidário realizado em meados de novembro (2017), cujo objetivo foi angariar fundos para apoiar a construção de 12 escolas e 12 poços de água em 12 vilas africanas.

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Mais logística para envio de roupa

Além do Quénia, Gana, Moçambique, Guiné-Bissau e Cabo Verde, outro país beneficiado é São Tomé e Príncipe. Na foto, meninos do arquipélago vestem calções da ONG. As peças foram enviadas em contentor, juntamente com brinquedos, materiais escolares, medicamentos e calçados. "Há uma série de bens em falta e não conseguimos fazer mais envios de bens por razões logísticas", explica Lisa Santos.

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Aberto a novos projetos

A próxima missão, em agenda, voltará possivelmente a Moçambique, para um projeto que dá especial apoio a meninas. As crianças das aldeias de Boane e Ndivinduane foram as que receberam roupas anteriormente. "Estamos continuamente em produção e à procura de novos projetos para apoiar, desde que tenhamos intermediários", avisa a dirigente da LDFA Portugal.

Autoria: João Carlos (Lisboa)

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Respostas a este tópico

Entendo que os países que exportam roupas usadas para a Comunidade da Africa Ocidental deveriam doar, enviar e fazer acompanhar a distribuição dessa roupa usada a essas pessoas tão carentes e sofrida.

Essa é minha opinião.

José Rosa

Linda matéria, em meu caso uma novidade, parabéns.

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