Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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A Dilma, interessa um Congresso desmoralizado. Ou: O silêncio ensurdecedor do comando do PSDB

As candidaturas de Henrique Alves (PMDB-RN) e Renan Calheiros (PMDB-AL), às presidências, respectivamente, da Câmara e do Senado são moral e eticamente injustificáveis, razão por que — os franceses escreveriam “et pour cause” — são do interesse do Planalto e do governo Dilma. “Como assim? Alguma teoria conspiratória, Reinaldo?” Bobagem! Trata-se de um exercício de lógica elementar.

Alves e Renan, dadas as respectivas folhas corridas, contribuem para desmoralizar o Congresso, que é a encarnação de um dos Poderes da República. Parlamento atrofiado, com a moral no lixo, interessa a um Executivo hipertrofiado. Não fosse uma lei da política, seria uma lei da física. Em qualquer democracia, há menos espaço institucional do que a pretensão de cada um dos Poderes constituídos. Quando um se omite ou tem de passar mais tempo se explicando do que exercendo suas funções legais, o outro ocupa o espaço. Mais: Dilma faz um governo um pouco abaixo da linha da mediocridade. Seu grande ativo é sua reputação de severa, de intolerante com a corrupção, “até com a amiga íntima de Lula”… É vista por uma boa parcela dos brasileiros como uma “não política”, imune à bandalheira.

O povaréu não sabe que, na prática, o Planalto patrocina, por intermédio do acordo do PT com o PMDB, a candidatura da dupla. Ignora também que isso é parte do jogo com vistas à eleição de 2014. Na América Latina, um mandatário ou mandatária com fama de incorruptível, pouco importa se justa ou injusta, sonha ter um Congresso com fama de ladravaz. Se Dilma pudesse escolher entre o próprio Renan Calheiros e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) para presidir o Senado, ela faria exatamente o que faz sem poder escolher: ficaria com Calheiros. “Seria assim com qualquer presidente”, poderia dizer alguém. Talvez! Mas isso não melhora Calheiros, certo?

As oposições
Um amigo, militante do PSDB (sim, existem alguns convictos, acreditem…), me ligou. Está bravo comigo por causa de um post que escrevi ontem. Não gostou de um trecho em particular, a saber (em azul):

“Também em nome do realismo, as oposições, em especial o PSDB, buscarão uma composição com esses valentes, porque a resistência poderia lhes custar não participar da mesa diretora das respectivas Casas. Seria esse um risco a correr? Seria, sim, desde que houvesse alguma interlocução com a sociedade e um discurso. Mas não há. Vai, uma vez mais, se enrolar no administrativismo e articular um de seus muitos silêncios.”

Segundo ele, estou caindo no jogo da imprensa petista, que, como ele disse, “resolveu jogar no nosso colo as candidaturas de Alves e Renan”. Argumenta ainda que a tradição é a presidência ficar com a maior bancada e que os tucanos não têm como articular uma candidatura viável. Reitera o aspecto que eu mesmo abordei: rebelar-se pode custar ficar fora da Mesa das duas Casas, “o que seria ainda pior para a oposição”.

Escrevo aqui a resposta que dei a ele (e, na nossa conversa, disse que o faria). Não ignoro os riscos a que ele alude. Mas, reitero, vale a pena ousar porque há um limite mesmo para o realismo. E me parece que Alves e Calheiros, muito especialmente este último, são limites que não devem ser ultrapassados.

Quer dizer, então, que, em nome da tradição e dos costumes não escritos, os tucanos e demais oposicionistas estão dispostos a condescender com a transgressão a leis escritas? Será mesmo que, para a oposição, é pior ficar fora da Mesa das duas Casas do que integrar a nau dos indecorosos? Ora, tenham paciência! Mirem-se no exemplo do PT quando na oposição. Não houve disputa em que o partido não lançasse ou apoiasse um candidato “alternativo”, ainda que para perder. Ademais, quem disse que eu acho que dá para ganhar? Estou aqui a tratar de derrotas que podem ser vitórias políticas. “Ah, ninguém faz nada com isso; político quer é cargo…” Bem, se é assim, então Renan e Alves são mesmo os nomes certos, né?

O meu interlocutor também não gostou de eu ter afirmado que os tucanos não têm interlocução com a sociedade e que evitam falar com ela. É mentira? O senador Aécio Neves (MG) é apontado como o candidato do partido à Presidência. Foi uma espécie de nomeação. Digamos que seja mesmo. Onde ele está? Por que não participa desse debate — como, de resto, de debate nenhum no ambiente do Congresso?

Os aecistas ficam nervosos quando leem algo assim — daqui a pouco alguém se lembra de me acusar de “serrista”…  Em matéria de futrica interna, alguns tucanos são imbatíveis. Tivessem a mesma disposição para combater o PT, a história do Brasil seria outra. Sou apenas objetivo e prático: ainda não entendi como funciona esse método de fazer oposição sem se opor a nada. E não estou sozinho nisso. Os eleitores, como as urnas deixam claro, também não entenderam.

Na Câmara, por exemplo, desde 1993, a regra é haver candidatos alternativos. Em muitas circunstâncias, tratava-se de uma questão política. Desta vez, estamos diante de graves óbices de natureza ética. Se as oposições querem existir, então têm de… existir, se me permitem a tautologia. Entregar o comando do Congresso a Alves e a Calheiros — eles mal conseguem responder a um levantamento superficial sobre sua trajetória recente — sem nem um protesto ou muxoxo é,  mais uma vez, acovardar-se. Se os tucanos, maior partido de oposição, não conseguem fazer um candidato alternativo de outra legenda, fariam mais bonito se lançassem “anticandidatura” própria. Chega a hora em que é preciso dizer aos eleitores: “Não concordamos com tais e tais procedimentos”. O preço do silêncio é a irrelevância.

Um Congresso desmoralizado poder ser interessante para o Planalto, sim. Mas interessa às oposições? Não estou jogando Calheiros e Alves no colo do PSDB porcaria nenhuma! Estou, isto sim, lembrando que o partido tem responsabilidades que os governistas não têm: VIGIAR O GOVERNO E SUAS RELAÇÕES COM O CONGRESSO, ORA BOLAS! Saibam, senhores tucanos: a maioria dos eleitores que escolheram votar no partido sabia estar escolhendo o lado derrotado. Confiou nele para pôr limites ao governismo, não para se entregar ao administrativismo sem imaginação.

Sim, senhores tucanos! Trata-se de fazer oposição. Desculpem o jeito cru de escrever isso. Encerro com uma pergunta: “Se não for agora, será quando?”.  Alguém objetará: “Ah, mas, se for eleito presidente, Aécio precisará do PMDB para governar…”. Não me digam! Precisará e terá. A questão é que, se quer mesmo ser o chefe de todos um dia, terá de passar pela situação desagradável de ser o chefe de uma parte e de dizer o que pretende. O sorriso da aeromoça é sempre bem-vindo porque, com efeito, todos estão no mesmo barco — quero dizer, “avião”: tucanos e petistas, corintianos e palmeirenses, flamenguistas e vascaínos, religiosos e ateus, gays e héteros, apreciadores e não apreciadores do Bolero de Ravel… Quando eu estiver no voo, fiquem tranquilos: rezo por todos… Afinal, como saber se os engenheiros acertaram a mão ao planejar as baterias do super Boeing 787? A nossa obrigação é fazer “de tudo” para o bem geral. O ateu que não reza a alguns mil pés de altitude deixa de cumprir uma obrigação moral, né? Contrariar a própria convicção, nesse caso, quer dizer “fazer tudo”, hehe…  Mas volto. A natureza da política é outra: consiste em reivindicar o direito de governar a todos falando, inicialmente, em nome de uma parte. Político não é aeromoça.

Não é possível que o PSDB, como partido — não como vozes isoladas —, não tenha a coragem de falar nem mesmo em nome daquela parte que cobra que os políticos tenham vergonha na cara.  Vamos, tucanos, levantem e andem! Com um pouco de coragem, talvez seja possível até voar!

Por Reinaldo Azevedo

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Comentário de Sam de Mattos em 19 janeiro 2013 às 0:47

Sao os mesmos palhacos em palcos diferentes. A dilma e viva. Enfraquecendo e desmoralizado o Legislativo, da mais forca ao executivo. Eassim caminha a Realpolitik.

Comentário de Romildo de Paula Leite em 18 janeiro 2013 às 10:47

Não é possível que o PSDB, como partido — não como vozes isoladas —, não tenha a coragem de falar nem mesmo em nome daquela parte que cobra que os políticos tenham vergonha na cara.  Vamos, tucanos, levantem e andem! Com um pouco de coragem, talvez seja possível até voar!

Comentário de Romildo de Paula Leite em 18 janeiro 2013 às 10:47

O senador Aécio Neves (MG) é apontado como o candidato do partido à Presidência. Foi uma espécie de nomeação. Digamos que seja mesmo. Onde ele está? Por que não participa desse debate — como, de resto, de debate nenhum no ambiente do Congresso?

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