Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Você lembra de Dona Zelite? Em quase todos os discursos, após assumir, Lula se referia com desdém e mágoa "às elite". Dito assim, engolido o plural, soava como um personagem. Surgiu, então, a Zelite. Ou, com o devido respeito, Dona Zelite. Lula se queixava dela a torto e a direito. A Zelite era preconceituosa. A Zelite não gostava de pobre. A Zelite o considerava despreparado. A Zelite era puxa-saco do FHC. A Zelite não reconhecia os méritos dele Lula. A Zelite isto, a Zelite aquilo.

 

            Nunca se soube o paradeiro da madame, mas o presidente a descrevia com clareza. Ela era o que havia de chique. Graduara-se em curso superior, era fluente em "língua de gringo" e citava autores estrangeiros (tipo de coisa que deixava Lula fulo da vida). Era branca de olhos azuis (o presidente insistia nessas duas características). Circulava em altas rodas e fazia cara de nojo para buchada de bode.

 

            Nosso ex-presidente trazia gravadas no subconsciente cicatrizes e luxações da tal luta de classes. O contato com o sindicalismo dos anos 70 o fazia dedicar à Dona Zelite uma aversão que extravasava sempre que surgia a oportunidade. Por outro lado, todas as suas referências à tal dama, se bem analisadas, evidenciavam os desconfortos de um complexo de inferioridade escancarado, diagnosticável por qualquer estudante de Psicologia. Lula penava com a convicção de que Dona Zelite o via como primário, pobre, retirante, baixinho e feio.

 

            O leitor deve estar surpreso. O quê? "O cara" com complexo de inferioridade? Com toda aquela jactância e desenvoltura em público? Complexo de inferioridade viajando de Aerolula? Surfando na consagração popular? Esclareço: tudo faz parte do quadro. São mecanismos de compensação que, de um modo ou de outro, se manifestam nos complexos e nas patologias psíquicas. A ele, a presidência disponibilizou meios formidáveis para compensar esse sentimento que tanto o perturbou ao longo da vida.

 

            Durante o exercício do poder, o incômodo causado pelo complexo foi sendo amortecido e dando lugar ao prazer da aprovação nacional. E Dona Zelite sumiu dos discursos! Aquela figura de retórica - quase uma projeção psicológica - foi se dissipando, dissipando, para reaparecer na fila do gargarejo, batendo palmas e rindo das tiradas presidenciais. Dona Zelite virou fã! Seria a cura definitiva? Talvez pudesse ser assim, se o prazer da aprovação não tivesse passado a dominar o presidente e feito emergir um novo transtorno. Lula descobriu que nada conquista mais aplausos do que distribuir dinheiro. Até o Sílvio Santos sabe. E o dinheiro passou a jorrar da cartola presidencial como petróleo na península arábica. Grana para todo lado! Grana para todo mundo! Do Paraguai à ONU. Do mais pobre ao mais rico. Dona Zelite lavou a égua e a popularidade de Lula disparou.

 

            Quando o dinheiro acabou, Lula raspou o cofrinho dos filhos - quer dizer: gastou a grana de quem vinha depois. Foi por isso que Dilma assumiu cortando despesas que ajudou a ampliar. E que a ajudaram a se eleger. A inflação, leitor, a inflação que está aí, subindo como espiral de fumaça, prenunciando tempos bicudos, é parte do preço que estamos pagando pelo tratamento daquele que pode ser considerado como o mais oneroso complexo de inferioridade da nossa história.

 

Zero Hora

BLOG DO

Percival Puggina

         twitter: @percivalpuggina

Exibições: 130

Comentar

Você precisa ser um membro de Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI para adicionar comentários!

Entrar em Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Comentário de Sam de Mattos em 9 maio 2011 às 15:27

Aqui vai um assunto que temos que ser cautelosas para que nao haja distorcao: Eu começo a entender o complexo de inferioridade do ex-presidente. Eu sou um brasileiro caucasiano, portanto, segundo recentes dados do IBGE, sou MINORIA. Não ha previsão ou provisão alguma de ajuda a minha etnia. Não ha bolsa de estudos, reserva de vagas em universidades e nada que incentive a minoria caucasiana brasileira. Confesso que a minoria Asiática é ainda menor e sofre o mesmo descaso. Meus avos estivem que engolir muito sapo por conta de seus sotaques e modismos e ate recentemente éramos chamados de "colonos" e "gente do cabo da enxada". Os irmaos de origens asiatica, sao chamados de "China", "Japoneses" ou "Bodes". Chegamos ao Brasil a cerca de 150 anos para substituir o trabalho escravo. Nos colonos somos os "Escravos Substitutos". Em vista disso, começo entender as frustrações do ex-presidente e ate com mais intensidade, por ter-me agora tornado a maior minoria étnica no Brasil. Mas não reclamo de ser minoria, não vou pedir “arrego”, nem fazer campanhas contra meus irmãos negros, índios, pardos e cafuzos. São todos tão Brasileiros quanto eu, e em sua maioria, como eu, não pediram “arrego”. Alias arrego não e coisa de etnia. Arrego deve ser alguma outra coisa, a qual muitos de nos Brasileiros não a conhecemos. Dai, para nos brasileiros desconhecedores do pedir “arrego”, a nos que recusamos ao pires ou chapéu na calcada,- engolimos os sapos calados. Sabemos que essas migalhas jogadas a alguns, não dignificam, paralisam e acomodam os seus recipientes, MUITO OBRIGADO, as dispensamos. Sei que sou minoria, mas retenho a minha dignidade. SdM

Comentário de Tadeu Bastos Gonçalves em 9 maio 2011 às 13:19
Pena que a turma do gargarejo não vai entender...e se entender, vai contestar...

© 2024   Criado por Textile Industry.   Ativado por

Badges  |  Relatar um incidente  |  Termos de serviço