Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

A moda invade os museus de arte e se 

torna uma de suas principais atrações. 


A exposição Punk: Chaos to Culture no Metropolitan Museum of Art - a moda invade os museus de arte, muitas vezes se tornando, como é o caso do Met, uma de suas atrações principais.
 
Criar sinergias entre arte-moda para imprimir alma à indústria, disse Florence Müller em Arte & Moda. Esse diálogo, com esse propósito, se inicia de fato no século XX, e levou a moda aos museus de arte - em alguns casos, se tornou a atração principal de alguns deles. 
Desde o nascimento da moda essa interação acontece, quando renascentistas criavam pinturas ao mesmo tempo que projetavam arquitetura e desenho de têxtil e estamparias. Com o porém de que neste período - no Renascimento - o artista tinha tanto um papel social bem como uma atuação bem diferente do que hoje compreendemos como arte.
É no século XX que surge a relação consciente de colocar em diálogo entre estes dois campos diferentes de atuação. Há artistas invadindo o universo da moda, às vezes como crítica, às vezes como exploração de uma nova fronteira. Há a atuação, por exemplo, de Gustav Klimt e sua célebre participação na Wiener Werkstätte e na butique das irmãs Flöge. Emilie Flöge, sua melhor amiga, foi sua modelo tanto para quadros quanto para propostas inovadoras de vestidos que dispensavam o uso do espartilho. 
Moda revolucionária que inspirou Paul Poiret, estilista francês dos anos 1920, que por sua vez aprendeu com seu mestre, Jacques Doucet, a importância de se olhar para a arte. Poiret foi a Viena e viu as criações de Klimt, e viu as propostas de figurino também revolucionárias dos Ballets Russes (Leon Baskt), fundiu essas duas referências e criou vestidos que não precisavam de espartilho assim como os de Klimt. 
O futurismo italiano criou roupas e artigos de decoração em direção ao que compreendiam como progresso e contra a estética burguesa. Viravam violentamente as costas para a tradição e inventavam novas formas de vestir, distantes da moda em voga àquele momento. Macacões e gravatas que acendiam são alguns dos elementos de ruptura que se propunha como nova estética cotidiana.
Elsa Schiaparelli foi responsável por imbuir a moda de princípios do dadaísmo e surrealismo. Chapéus em forma de scarpins, bolsos que simulam gavetas, bordados enigmáticos, botões que são alegres trapezistas saltando. Formas desconcertantes e estimuladoras de pensamento. Schiap fez como poucos a moda nos fazer pensar.
Não só na criação da roupa está a sinergia, mas também na sua divulgação: o que dizer de Man Ray e suas fotografias de moda surrealistas? Marcaram para sempre que uma fotografia de moda não tinha que mostrar uma peça de roupa, mas sim a ideia que dela emana, o significado que ela carrega.
O empresariado compreende os artistas como detentores de possíveis meios de impregnar os produtos industriais com algum teor de novidade (tem mais aqui) Como a moda deve trazer coisas novas a cada estação, emprestar a energia criativa da arte faz com que o ciclo do consumo de moda gire.

 
Pierre-Auguste Renoir (1867), de Fréderic Bazille, no Art Institute of Chicago.
O empresariado compreende os artistas como detentores de possíveis meios de impregnar os produtos industriais com algum teor de novidade (tem mais aqui). Como a moda deve trazer coisas novas a cada estação, emprestar a energia criativa da arte faz com que o ciclo do consumo de moda gire.
 
Enquanto peça de museu, os vestuários estão há muito tempo em museus de história ou antropológicos. Porém, a troca de experiências entre a moda e as artes fez com que museus de arte passassem a prestar a atenção nessa estética do cotidiano (como bem apontou Baudelaire em Sobre a Modernidade). Museus como o Metropolitan Museum of Art (The MET), o MoMa (The Museum of Modern Art), ambos de Nova York, passaram a colecionar peças de vestuário que continham ou não explicitamente essa sinergia entre arte e moda. 
 
Uma das primeiras grandes exposições de moda aconteceu em 1983, no Metropolitan Museum - hoje, lançador de uma grande exposição hype por ano - sob a responsabilidade de Diana Vreeland. O homenageado foi Yves Saint-Laurent, também o primeiro costureiro vivo a ganhar uma retrospectiva em museu. A passagem de Diana Vreeland no Costume Institute, do MET transformou a maneira de fazer e pensar a curadoria de exposições de moda, revolucionando a linguagem curatorial, pensando-a a partir de sua experiência como editora de revista de moda. 
 
Suzy Menkes já apontou em 2011 a razão por que há tantas exposições de moda em museus de arte. A moda é o grande fenômeno midiático de nosso tempo. E é facilmente compreendido pelo público, diferentemente da arte, em especial a contemporânea, que exige iniciação por parte do espectador.
 
A moda é fácil de ser entendida pelo 
público, ao contrário da arte, que 
exige certa iniciação.
 
Vale destacar a curadoria de Germano Celant, que nos anos 1990 lançou seu olhar para a moda sob a perspectiva da arte contemporânea, e a fez eixo para a Bienal de Florença. Isso gerou um grande impacto, pois a moda foi notada não só como tema, mas também como passível de expressar questionamentos sobre a nossa vida cotidiana. Aquilo que Schiap havia sido a precursora, agora se tornava não só um espaço cada vez mais e mais comum na moda, mas também passou a fazer parte dos processos educativos da moda.
 
Também é na virada do século que vemos uma série de museus fundados (e mesmo geridos) pela própria marca, como, por exemplo: Valentino e Ferragamo na Itália, Cartier, Pierre Cardin e a fundação Pierre Bergé/Yves Saint-Laurent na França, Balenciaga na Espanha - só para citar alguns. Muitos desses espaços hoje são importantes indicadores de arte contemporânea, como a Fundação Cartier.
 
Montagem da exposição Club to Catwalk, em cartaz no londrino Victoria & Albert Museum.
 
As últimas exposições de moda em cartaz nos principais museus de arte são a polêmica Punk: To Chaos to Culture, do Metropolitan, Club to Catwalk, no Victoria & Albert Museum, e a Impressionism, Fashion, and Modernity, no Art Institute of Chicago. Em novembro, o Somerset House de Londres prepara retrospectiva da editora (e ícone de moda) Isabella Blow.
 
No Brasil, existiram as exposições que relacionam moda e arte no final do século passado, com a inesquecível exposição Cotidiano/Arte (1999) com vestuários, imagens e músicas que construíram na década de 1960 os desfiles shows da Rhodia. Logo após vemos pontuar exposições em galerias de arte, a organização de algumas coleções em espaços públicos, e mesmo alguns museus especialmente dedicados ao tema. 
 
Uma grande exposição de moda, no entanto, marcou o país nos idos de 2004, intitulada Fashion Passion. Aconteceu na Oca, no Parque do Ibirapuera,  recheada com clássicos da história internacional da moda, de vestidos do século XIX à John Galliano, passando por Madeleine Vionnet, Christian Dior, Balenciaga, Azzedine Alaïa, Issey Miyake, Yohji Yamamoto, Jean-Paul Gaultier e Christian Lacroix. Tudo isso misturado a alguns criadores de moda, como Dener Pamplona de Abreu, e a artistas brasileiros que pensaram ou flertaram de alguma forma com questões da moda, como o emblemático Flávio de Carvalho.

Patricia Sant'Anna e Vivian Berto
Tendere - Pesquisa de Tendências e Consultoria para Moda, Beleza e Design

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