Há uma década, os compradores teriam feito fila na maior feira profissional da China de importação e exportação para fazer negócios com as empresas têxteis que vendem matérias-primas e vestuário a uma fração dos preços cobrados em Itália ou nos EUA. Na última edição, contudo, os exportadores chineses afirmaram à Reuters que esse tipo de fila desapareceu. «Não se consegue sobreviver se fizermos produtos de gama baixa», afirmou Melinda Zhang, diretora-executiva da Nantong Kelin Textile Co, que emprega cerca de 250 pessoas e fornece roupa de cama a clientes como o W Hotel em Singapura. «Quando se compete para vender ao preço mais baixo, há sempre alguém a vender a um preço ainda mais baixo», acrescentou.
Os exportadores têxteis, um símbolo da produção a custos baixos por detrás das economias “tigre” da Ásia, revelaram na Feira de Importação e Exportação de Cantão, no sul da China, que estão a ser esmagados pelo aumento dos custos.
Ainda há compradores estrangeiros – e a China continua a ser, de longe, a maior exportadora de têxteis –, mas estes estão a voltar-se cada vez mais para a Índia, para o Paquistão e até de novo para a Europa, à medida que a diferença de preços diminui, explicam os exportadores chineses.
Mas nem tudo é negativo nesta conjuntura económica chinesa. Os dados mais recentes da produção no país mostram o maior valor desde o início de 2011. Mas os corredores calmos durante a última fase (o certame realiza-se em três fases, com a terceira e última, realizada de 31 de outubro a 4 de novembro, a focar-se em têxteis e vestuário, carteiras, equipamentos desportivos, alimentação, medicamentos e produtos de saúde) da Feira de Cantão, que decorre duas vezes por ano durante três semanas, mostrou o quanto as empresas chinesas com margens mais baixas estão a ser espremidas.
A transformação económica da China significou uma subida dos padrões de vida, mas também um aumento dos salários, forçando as empresas a ascenderem na cadeia de valor para continuarem competitivas. As indústrias altamente tecnológicas estão a substituir sectores de mão de obra intensiva como os têxteis e o vestuário.
«Venho à feira há 10 anos. No seu pico, as pessoas faziam fila para falarem connosco», referiu um exportador sediado em Shenzhen que vende toalhas e outros artigos, um dos 8.239 expositores presentes na terceira fase da feira. «Agora há poucas pessoas. Há mais expositores do que compradores estrangeiros», apontou.
As exportações de têxteis da China caíram no ano passado pela primeira vez em seis anos, descendo 5%, para 286,8 mil milhões de dólares (cerca de 270 mil milhões de euros). Entre janeiro e agosto deste ano, as exportações de têxteis e vestuário desceram mais de 4,5%.
Alguns dos compradores na feira queixaram-se da má qualidade e do aumento de preços superior a 10% sobre alguns bens no último ano. Outros duplicaram os preços nos últimos cinco anos, mas os padrões de qualidade não seguiram o mesmo ritmo, destacam alguns.
A Turquia e Itália estão entre os países para os quais os compradores se estão a voltar. «Talvez sejam mais caros, mas têm um design melhor», realçou Sergey Gerts, gestor de importação na Sparta Trade House, na Rússia, referindo-se a mercados mais perto de casa. Gerts estava a visitar a feira pela terceira vez para comprar sobretudo toalhas de mesa e tapetes de rua.
Entre as principais dores de cabeça para os têxteis e para os produtores de gama baixa estão os salários. Os salários médios na China cresceram a uma taxa composta anual de mais de 12% – de 4.538 yuan em 1994 para 45.676 yuan por ano em 2013, de acordo com a All-China Federation of Trade Unions.
As autoridades chinesas apelaram a um abrandamento no aumento dos salários para o país se manter competitivo. Sam Ma, da Nantong Lu-Ri Co, que vende sobretudo lençóis e cobertores de elevada qualidade, revelou à Reuters que os salários têm vindo a subir 5% a 10% por ano nos últimos anos. «Em cinco a 10 anos, a produção de gama baixa irá para o Paquistão», afirmou.
FONTE: PORTUGAL TÊXTIL
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