Em recente operação que fiscalizou oficinas subcontratadas de fabricante de roupas da Zara, 15 pessoas, incluindo uma adolescente de 14 anos, foram libertadas de trabalho escravo contemporâneo em plena capital paulista
Por Bianca Pyl* e Maurício Hashizume
São Paulo (SP) - Nem uma, nem duas. Por três vezes, equipes de fiscalização trabalhista flagraram trabalhadores estrangeiros submetidos a condições análogas à escravidão produzindo peças de roupa da badalada marca internacional Zara, do grupo espanhol Inditex.
Na mais recente operação que vasculhou subcontratadas de uma das principais "fornecedoras" da rede, 15 pessoas, incluindo uma adolescente de apenas 14 anos, foram libertadas de escravidão contemporânea de duas oficinas - uma localizada no Centro da capital paulista e outra na Zona Norte.
Para sair da oficina que também era moradia, era preciso pedir autorização (Foto: Fernanda Foroni) |
Roupa com etiqueta da marca, falta de espaço, riscos e banho frio (Fotos: FF, BP e SRTE/SP) |
O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) lavrou 52 autos de infração contra a Zara devido as irregularidades nas duas oficinas. Um dos autos se refere à discriminação étnica de indígenas quéchua e aimará. De acordo com a análise feita pelos auditores, restou claro que o tratamento dispensado aos indígenas era bem pior que ao dirigido aos não-indígenas.
"Observa-se com nitidez a atitude empresarial de discriminação. Todos os trabalhadores brasileiros encontrados trabalhando em qualquer um dos pontos da cadeia produtiva estavam devidamente registrados em CTPS [Carteira de Trabalho e Previdência Social], com jornadas de trabalho condizentes com a lei, e garantidos em seus direitos trabalhistas e previdenciários", destaca o relatório da fiscalização. "Por outro lado, os trabalhadores imigrantes indígenas encontram-se em situação de trabalho deplorável e indigno, em absoluta informalidade, jornadas extenuantes e meio ambiente de trabalho degradante".
Dignidade é subtraída por dívidas, degradância, longas jornadas e baixa remuneração (Foto: BP) |
Prédio onde ficava oficina, condições degradantes, precariedades e etiquetas (Fotos: SRTE/SP e BP) |
Da outra oficina localizada em movimentada avenida do Centro, foram resgatadas nove pessoas que produziam uma blusa feminina e vestidos para a mesma coleção Primavera-Verão da Zara.
A intermediária AHA (que também utilizava a razão social SIG Indústria e Comérico de Roupas Ltda.) pagava cerca de R$ 7 por cada peça para a dona da oficina, que repassava R$ 2 aos trabalhadores. Peça semelhante a que estava sendo confeccionada foi encontrada em loja da marca com o preço de venda de R$ 139.
Uma jovem de 20 anos, vinda do Peru, disse à reportagem que chegou a costurar 50 vestidos em um único dia. Em condições normais, estimou com Maria Susicléia Assis, do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco, seria preciso um tempo muito maior para que a mesma quantidade da difícil peça de vestuário fosse toda costurada.
Há 19 anos no Brasil, a boliviana que era dona da oficina teve todos os seus oito filhos (entre 5 meses e 15 anos) nasceram aqui. Ela sonha em dar um futuro melhor aos rebentos, para que não tenham que trabalhar "nas máquinas, com costura". "Todo mundo na minha terra que vinha para o Brasil dizia que aqui era bom. E eu vim", contou a senhora.
Parte da produção foi apreendida, assim como as peças pilotos, que carregavam instruções da Zara de como confeccionar a peça de acordo com o padrão definido pela varejista multinacional. "Isso demonstra a subordinação das oficinas e da AHA em relação à Zara", realça Giuliana. A oficina e um dos quartos, onde dormiam dois trabalhadores e duas crianças, foram interditados. A fiação elétrica estava totalmente exposta e havia possibilidade de curto-circuito.
Os trabalhadores declararam trabalhar das 7h30 às 20h, com uma hora de almoço, de segunda à sexta-feira. Aos sábados, o trabalho seguia até às 13h. Um trabalhador chegou a relatar que há dias em que o trabalho se estende até às 22h.
O local funciona em um sobrado de dois andares (foto ao lado), com muitos cômodos. O maior deles, onde os trabalhadores passavam a maior parte do dia, acomodava as máquinas. Os cinco banheiros estavam muito sujos. Somente três possuíam chuveiros, mas todos também estavam desligados.
Um dos trabalhadores, irmão da dona da oficina, está no Brasil há sete anos e já possui os documentos e até CTPS. "Eu trabalho na costura desde que cheguei. Mas eu queria mesmo era trabalhar com música. Eu consegui comprar algum equipamento já".
Outro jovem, de 21 anos, disse que não gosta muito do trabalho porque é "cansativo". Ele recebe, em média, R$ 500 por mês. "Eu vou voltar para a Bolívia. Queria estudar Turismo e trabalhar com isso. A costura é só para sobreviver", projetou.
A Zara foi avisada do flagrante no momento da ação pelos auditores fiscais e convidada a ir até a oficina de costura, mas não compareceu.
No dia seguinte, compareceram à sede da SRTE/SP dois diretores, que não quiseram participar da reunião de exposição dos fatos,. Até o advogado da empresa foi embora sem ver as fotos da situação encontrada. Somente duas advogadas da AHA (que no início da reunião se apresentaram como enviadas dos donos das oficinas e até dos trabalhadores) participaram da reunião com os auditores. A empresa não providenciou sequer alimentação às vítimas, que ficou a cargo do sindicato da categoria.
Fluxograma
A intermediária na contratação das duas oficinas em que houve libertações é a AHA Indústria e Comércio de Roupas Ltda. No período de abril a junho deste ano, a produção de peças para a Zara chegou a 91% do total. A SRTE/SP descobriu que há 33 oficinas sem constituição formal, com empregados sem registros e sem recolhimento do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) contratadas pela AHA para a executar a atividade de costura.
Por meio de análises de documentos da empresa AHA, incluindo contábeis, a fiscalização verificou que, neste mesmo período, mais de 46 mil peças foram produzidas para a Zara sem nenhuma formalização.
Durante o período auditado pela fiscalização (julho de 2010 a maio deste ano), a AHA foi a fabricante da Zara que mais cresceu em faturamento e número de peças de roupas faturadas para a marca, a ponto, na descrição da SRTE/SP, de se tornar a maior fornecedora da Zara na área de tecidos planos. Entretanto, chamou a atenção dos agentes que, nesse mesmo período, a empresa diminuiu o número de empregados formalizados. Os contratados diretamente da AHA passaram de 100 funcionários para apenas 20 (gráfico abaixo). A redução do de trabalhadores na função de costureiros foi ainda mais drástica: dos anteriores 30 para cinco funcionários exercendo a função.
"O nível de dependência econômica deste fornecedor para com a Zara ficou claro para a fiscalização. A empresa funciona, na prática, como extensão de logística de sua cliente preponderante, Zara Brasil Ltda.", sustentam os auditores fiscais do trabalho que estiveram à frente da investigação.
Foi apurado que até a escolha dos tecidos era feita pelo Departamento de Produtos da Zara. Mas o fabricante terceirizado encaminhava peças piloto por conta própria para a matriz da Zara (Inditex) na Espanha, após a aprovação de um piloto pela gerente da Zara Brasil. Somente após a anuência final da Europa, o pedido oficial era emitido para o recebimento das etiquetas. Na opinião de Luís Alexandre Faria, auditor fiscal que comandou as investigações, a empresa faz de tudo, porém, para não "aparecer" no processo.
Primeiro flagrante de trabalho escravo na cadeia produtiva da Zara foi em Americana (Fotos: BP) |
Mistura entre espaço familiar e de trabalho, instruções e peça piloto (Fotos: SRTE/SP e BP) |
De acordo com auditores fiscais da GRTE de Campinas (SP), houve adequação da instalação elétrica e melhora do espaçamento entre as máquinas. Os trabalhadores agora utilizam cadeiras com melhores condições ergonômicas e de conforto. A iluminação também foi melhorada e os equipamentos de incêndio estão todos válidos e sinalizados. As saídas de emergência foram demarcadas. "Com a mudança da oficina e a suspensão da interdição, grande parte dos trabalhadores voltaram a trabalhar de forma regular nas novas instalações da mesma oficina", discorre a auditora Márcia Marques. Foram lavrados 30 autos de infração contra a intermediária Rhodes pelas irregularidades encontradas. Nove autos se referem às questões trabalhistas e as demais infrações estão relacionadas à saúde e segurança do trabalho. A reportagem não conseguiu entrar em contato com a Rhodes pelos telefones da empresa.
Made in Brazil
Em resposta a questões sobre os ocorridos enviadas pela Repórter Brasil, a Inditex - que é dona da Zara e de outras marcas de roupa com milhares de lojas espalhadas mundo afora - classificou o caso envolvendo a AHA e as oficinas subcontratadas como "terceirização não autorizada" que "violou seriamente" o Código de Conduta para Fabricantes.
Seungod a Inditex, o Código de Conduta determina que qualquer subcontratação deve ser autorizada por escrito pela Inditex. A assinatura do Código do Conduta é obrigatória para todos os fornecedores da companhia e foi assumido pelo fornecedor em questão (AHA/SIG).
A empresa disse ter agido para que o fornecedor responsável pela "terceirização ão autorizada" pudesse "solucionar" a situação imediatamente, assumindo as compensações econômicas dos trabalhadores e comprometendo-se a corrigir as condições de trabalho da oficina flagrada com escravidão.
Haverá, segundo a Inditex, um reforço an revisão do sistema de produção da AHA, assim como das outras empresas no Brasil, para garantir que não exista outro caso como este. "Estamos trabalhando junto com o MTE para a erradicação total destas práticas que violam não só nosso rígido Código de Conduta, como também a legislação trabalhista brasileira e internacional".
Em 2010, a Inditex produziu mais de 7 milhões de unidades de peças no Brasil, desenvolvidas, segundo a empresa, por cerca de 50 fornecedores que somam "mais de 7 mil trabalhadores". O total de peças que estava sendo produzido irregularmente (algumas centenas de peças), adicionou a Inditex, representa "uma porcentagem inferior a 0,03%" da produção do grupo, que é um dos maiores do mundo no segmento, no país.
A maior parte dos produtos do grupo que comanda a Zara é feita na Europa. Metade é confeccionada em países como Espanha (onde a empresa mantém fábricas próprias) ou Portugal. Outros 14% são fabricados em outras nações europeias como Turquia e Itália. A produção no Brasil corresponde a algo inferior a 1% do total. Em 2010, 30 lojas da Zara já estavam em funcionamento no país. São cerca de 2 mil profissionais contratados diretamente.
"No que se refere à presença comercial, o Brasil é o terceiro mercado mais importante da Inditex no continente americano, ficando atrás somente dos Estados Unidos e do México", colocou a empresa, que manifestou intenção de não abandonar a produção no país. "A Inditex prevê seguir crescendo no Brasil com a abertura de novas lojas a curto, médio e longo prazo".
*A jornalista da Repórter Brasil acompanhou a fiscalização da SRTE/SP como parte dos compromissos assumidos no Pacto Contra a Precarização e pelo Emprego e Trabalho Decentes em São Paulo - Cadeia Produtiva das Confecções
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Sim , e dai, o que vai acontecer com essa e com tantas outras?
Coreanos, chineses, bolivanos, etc. etc, podem vistos em grupos, nas regiões em que vivem e trabalham em nosso país , e dão pistas para investigações.
O assunto irá além de uma página de jornal?
O público rejeitará a marca?
Pessoas serão impedidas de contratar trabalhadores por conduta imprópria?
Não, evidentemente que não.
E assim caminha a humanidade, com mais idade que humana!
Nunca mais me falem de "Braceros" Mexicanos sofrendo nos EUA. Isso não e uma politica de Pais. Isso e uma condição degradante da usura humana. Depois de ricos, esses “Capitães da da Selva de Concreto”, diretos descendentes do Capitães do Mato, esses exploradores da Raça Humana, estarão badalados na mídia e sendo referidos como "Empresários"... Empresários da fome e desgraça: PAU NELES. SdM
Tem que ficar em cima, tem que fiscalizar, não importa que ainda existam outros casos, o importante é estar combatendo esse tipo de crime...
O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
Martin Luther KingAh Daniel. Ponho aqui em publico: Robar-lhe-ei esta linda expressao do Dr. King.
Que Merida (Mexico)! Por nao escrevi isso eu? Parabens!
O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons.
Martin Luther KingMarca Zara está envolvida em denúncia de trabalho escravo
Fornecedora da rede espanhola mantinha uma casa na zona norte de São Paulo com 16 trabalhadores sulamericanos em condições irregulares
Uma equipe de fiscalização do Ministério do Trabalho encontrou, no final do mês de julho, uma casa na zona norte de São Paulo onde 15 bolivianos e um paraguaio viviam e trabalhavam em condições de semi-escravidão. Eles produziam peças para a uma empresa fornecedora da marca de roupas Zara, que faz parte do grupo espanhol Inditex. Os trabalhadores enfrentavam uma jornada de trabalho de mais de 15 horas por dia em uma casa, onde também viviam. A remuneração paga pela empresa a cada um dos funcionários não era condizente com o tempo de trabalho, e eles tampouco tinham carteira assinada. "Não tinham salário fixo e ganhavam centavos por peças produzidas, trabalhando muitas vezes 20 horas por dia", afirmou a costureira Maria Susicleia Assis, diretora do Sindicato das Costureiras de São Paulo e Osasco.
As peças produzidas por uma empresa chamada AHA tinham um custo de 7 reais para o proprietário da oficina ilegal. “Era um local abafado, com pouca iluminação, sem ventilação, mal cheiroso, em que as janelas eram mantidas fechadas para ninguém saber que havia uma oficina de costura ali”, conta Maria Susicleia, que estve presente na operação de fiscalização
Além de Maria, a equipe de fiscalização foi composta por agentes da Polícia Federal (PF), integrantes do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas - da Secretaria da Justiça e Defesa da Cidadania do Estado de São Paulo, auditores da SRTE/SP e membros do sindicato.
Foram identificadas pelo MTE cerca de 35 oficinas que apresentavam possibilidade de ter trabalho escravo, realizado por bolivianos (portanto com indício de tráfico), produzindo roupas da marca Zara. Até o momento, quatro das oficinas foram fiscalizadas.
A rede não é a primeira a ser flagrada com presença de trabalho irregular em sua cadeia. Em abril deste ano, a Argonaut, marca de rouoas da linha jovem que fornecia para a rede Pernambucanas, foi deflagrada com bolivianos que trabalhavam mais de 60 horas semanais para receber 400 reais.
Procurada pelo site de VEJA, a Inditex não havia se pronunciado até o fechamento desta reportagem.
Fonte:|http://veja.abril.com.br/noticia/economia/trabalho-escravo-encontra...
Combate? Fiscalização?
Atenção como começa a matéria:
Nem uma, nem duas. Por três vezes, equipes de fiscalização trabalhista flagraram trabalhadores estrangeiros submetidos a condições análogas à escravidão produzindo peças de roupa da badalada marca internacional Zara, do grupo espanhol Inditex.
Quantas vezes mais serão necessárias?
Enquanto houver fome, falsas esperanças, aproveitadores sem medo da punição, o sistema será alimentado.
Em uma sociedade sem autocrítica, o poderoso sempre dirá que há tres maneiras de se fazer as coisas: bem feitas, mal feitas e à sua maneira!
Temos que comecar a FAXINA em algum lugar. Todos nos conhecemos a corrupcao tambem na FISCALIZACAO. Comecemos a apertar a FISCALIZACAO PUBLICA NESTA AREA. Depois MULTAS. PESADAS MULTAS. Se nao der resultado embargue o negocio. se nao der certo, PRISAO.
Carlos Alberto: Ai, uma "facinha, facinha" para D. Dilma: Apertar a imigracao e fiscalizacao sanitaria e fiscais a nivel local, como da prefeitura. O que fazer mais? De minha parte estou mandando o artigo (Otimamente escrito) para as Nacoes Unidas e Direitos Humanos em Genebra, pagando o selo de meu bolso, e o tempo de versar os relatos em Ingles, de duzidos de minhas horas de sono. Quero ver se esta MERIDA (Mexico) fede ou nao fede. Fazer o que? E ja o o fiz. Posso ser visto ate um D. Quixote cacando moinhos de vento. Fine, fine... Mas hoje dormirei bem. SdM
Ivan Postigo disse:
Sim , e dai, o que vai acontecer com essa e com tantas outras?
Coreanos, chineses, bolivanos, etc. etc, podem vistos em grupos, nas regiões em que vivem e trabalham em nosso país , e dão pistas para investigações.
O assunto irá além de uma página de jornal?
O público rejeitará a marca?
Pessoas serão impedidas de contratar trabalhadores por conduta imprópria?
Não, evidentemente que não.
E assim caminha a humanidade, com mais idade que humana!
QUE ASCO!!!
ATÉ TU, ZARA???
Ivan Postigo disse:Sim , e dai, o que vai acontecer com essa e com tantas outras?
Coreanos, chineses, bolivanos, etc. etc, podem vistos em grupos, nas regiões em que vivem e trabalham em nosso país , e dão pistas para investigações.
O assunto irá além de uma página de jornal?
O público rejeitará a marca?
Pessoas serão impedidas de contratar trabalhadores por conduta imprópria?
Não, evidentemente que não.
E assim caminha a humanidade, com mais idade que humana!
Tem razão , não vai acontecer nada , dependeria só de nós de nunca mais entrarmos naquela loja , mas quem vai fazer isso? Falta concientização e educação .
Fico indignado coma a ganacia pode corromper, Na ilusao de ter uma vida melhor pessoas simples acreditando no seu proximo sao enganadas é o pior pelos proprios Patricios.
Saber que existem pessoas que trabalham nessa condiçao e revoltante, é o pior que empresas de renome estao compactuando, isso nao é apenas no Brasil.
TEMOS QUE LUTAR CONTRA A ESCRAVIDAO HUMANA, NAO COMPRAR AOS PRODUTOS FABRICADOS NESSA CONDIÇAO.
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