Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

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Alcione no desfile de Victor Dzenk /Foto: AG.News

A imprensa estrangeira que veio cobrir a semana de moda do Rio deve ter saído dos nossos desfiles com essa impressão. Na passarela, nada das famosas curvas das Giseles, que nos anos 2000 romperam o padrão reinante de “heroin-chic” da década anterior. As modelos estavam magras, magérrimas, pálidas, branquíssimas. E com aquela eterna cara de tristeza, simplesmente andando na passarela, sem enfeitar as roupas que desfilavam, sem serem embelezadas por elas.

Para que uma mulher vai comprar uma roupa senão para ficar mais bonita, mais feliz? A cara de enfado das modelos brasileiras segue, claro, uma tendência internacional dos desfiles europeus e americanos. Só que o tempo deles terminou. Mergulhada numa crise medonha, a Europa volta seus olhos para os mercados emergentes. Nunca tantas grifes estrangeiras abriram tantas lojas no Brasil. E elas não estão aqui atrás dos mesmos erros que fizeram suas economias naufragarem como o navio italiano. Elas querem nossa autenticidade, nossa tão falada alegria, nossos consumidores afetivos e fiéis a quem os trata bem. Em breve, elas terão de se adaptar ao jeito único do cliente brasileiro e as vendedoras, de abandonar a postura esnobe que consagrou essas marcas inacessíveis no mundo da moda — outro dia, entrei numa loja da Prada em Nova York e uma vendedora sorriu para mim, juro que é verdade.

E, de repente, convida-se um grupo respeitável de jornalistas estrangeiros especializados em moda para se sentar na primeira fila dos desfiles das marcas brasileiras. A palavra deles é de ouro, muitos compradores confiam nela para pegar um avião, fazer seus pedidos e pendurar as roupas nas araras de suas lojas. Na passarela, tricôs pesados, vestidos assépticos para corpos famélicos, cortes complicadíssimos que nossa pouca experiência jamais poderá igualar aos de seus pares europeus. É uma pena: as grifes que mais vendem no mundo — Chanel, Dior, Louis Vuitton — sempre fazem referência a sua própria história, aos seus códigos, por mais que os temas das coleções mudem.

Com a chegada das marcas estrangeiras ao Brasil (e elas são ricas, anunciam caudalosamente e têm um plano de marketing bem agressivo e estruturado), o grande desafio da moda nacional não é mais a exportação — até porque, como o real alto e os impostos pagos aqui, o preço de nossas roupas chega proibitivo lá fora. A meta é ser competitivo dentro de casa e, para isso, é preciso ser autêntico, revirar nossas raízes, procurar nas profundezas desse país tão rico e complexo algo que faça diferença no mundo.

De todos os desfiles a que assisti até agora, o que mais me chamou atenção foi o do mineiro Victor Dzenk. Victor nunca quis inventar a roda; seu estilo é sempre o mesmo: caftãs coloridos, vestidões estampados, caudas esvoaçantes, tudo ao gosto de uma mulher perua que gosta de ser notada. De coleção em coleção, ele homenageia cidades, estados e países e nunca trai sua cliente, que sabe exatamente o que vai encontrar ali. Pois, nesta temporada, Victor decidiu homenagear o Maranhão e colocou Alcione para cantar no desfile com uma trupe folclórica do boi. Ao final da apresentação, a plateia inteira se levantou, aplaudiu e dançou. Isso é Brasil. Isso não é Europa.

Esperto, esse Victor, que deu um sopro de alegria numa estação fria e sem graça como o inverno. Gostei também de suas modelos, que faziam poses divertidas em frente às câmeras e que jogavam os bracinhos para o alto enquanto Alcione evoluía. Adorei ver as referências às janelas do Maranhão, aos postes franceses de São Luís, à geometria colorida dos trajes dos blocos populares. Tive orgulho da nossa terra, um sentimento bobo e ufanista, mas genuíno. Um jornalista gringo ficou fascinado com aquilo e queria saber tudo sobre Alcione, pois adoraria, disse ele, fazer uma matéria sobre ela.

No último dia de moda no Rio, no entanto, senti vergonha de uma repórter estrangeira que me perguntou por que não havia praticamente nenhum negro na passarela e se o consumidor local deixa de comprar uma roupa se ela não for desfilada por um branco. Uma amiga, que estava ao meu lado, respondeu que essa questão é antiga, que já foi ultradebatida nos anos anteriores e que não adiantou nada, esse tema já estava ultrapassado e saiu de moda.

Acho que, se continuarmos nesse ritmo, quem pode sair de moda a qualquer momento somos nós.

Fonte:|http://colunas.revistaepoca.globo.com/brunoastuto/2012/01/15/um-pai...

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Respostas a este tópico

BRAZILIAN FASHION - DE MICHAEL TILÓ A LE CORBUSIER

Dou a minha cara a tapa se no Brasil não houver criatividade para modas, fashion ou grifes.

A palidez de nosso desempenho de criatividade descrita no artigo em questão, talvez seja indicativa de uma subserviência à moda ditada pela Europa. Talvez nos estejamos tentando adaptar o nosso modelo Afro-Caboclo-Europeu e genuinamente miscigenado e Brasileiro, aos moldes Europeus.

Talvez precisemos inserir ou emular algo "de lá" para recebermos um tipo de "aval aceitável" por cá.

Mas creio que se ousarmos, e lançáramos para fora de nossa psique Macunaíma essa "herança maldita" de baixa estima nacional e de etnia, e começarmos a criar “o nosso”, iremos brilhar.

Por exemplo, como fez o nosso amigo simples e genuíno, o sanfoneiro Caucasiano Michael Tiló em seu refrãozinho simples (seria musica?), sem muito Bosteio do Mate, sem rococós e paetês, porem genuíno que faz sucesso internacional: Falo de seu refrãozinho simples, intitulado "Ai que Vontade de Mete-lhe a Vara" (ou ando nessas linhas, incluindo a coreografia de braços indicativa de chamar a femea “na chincha”), no curto - e - grosso, sem o mais ou menos.

Talvez, os nossos estilistas, baseados na simplicidade criativa e  genuína de nosso jovem sanfoneiro, então descubramos a profundidade e o sentido das palavras do Eterno Arquiteto Le Corbusier, quando dizia: "O menos e mais".

Sam de Mattos, Jr.

 

Que País é esse???????????????????? Sam, não devemos criticar Michael teló, que está simpelsmente sendo "Boi de Piranha" nesse conflito musical, se é que pode se chamar assim. vamos apenas ter misericórdia do nosso povo que dá ênfase a esse besteirol, simplesmente lamentamos e profundamente,mas, o sistema é bruto e o processo é lento

Tudo passa e na passarela também

Anexos

Primeiro, te Amo Guria, e obrigado pela profundidade dos comentarios. Sim Tudo Passa... E como.

Meus temas as vezes nao sao muito claros.

Algumas vezes os ancoro em uma sutileza, num nome, numa escola ou estilo.

Coisa mais de pintor abstrato, ou no minino impressionista do que realista.

As vezes brigo comigo mesmo: Para mim o ponto mais curto entre os pontos A e B e uma linha em Zig Zag.

Mas creio o que quis dizer e que:

1- Facamos em nossas escolas Mapa Mundi com o Brasil e Australia em cima e o resto do mundo la em baixo. Chamenos o Sul de Norte e vice versa. Ja me cansei de ver esse mapa louco, por tanto tempo, com o mundo Ponta-Cabeca.

2-Temos gente criativa aqui no Brasil (Vivi, Voce, Itaguassu, Castano e TANTOS outros - eu NAO incluido) para ter a nossa linha Fashion, sem ficar dependendo de ouvir baboseiras como a  deque gerou esse comentario. (Por favor, exclarecendo, de quem pensou e disse - nao do Jornalista que postou o texto)

3- Nossos estilistas, artistas, NOS temos o "cabedal" de criarmos a nossa propria escola.

4- Se o Jovem sanfoneiro, com o seu teminha ludico-Freudiano conseguiu impactar o mundo com o seu teminha musical, imagina o que voces, artistas e criativos poderao faze com a nossa moda? Com a nossa arte? Com o nosso talhe, desenho, estampa e add infinitum?...

Para tal temos que ter a certeza que somos capazes, sermos altaneiros, de nao sermos acima de ninguem (salvo no Mapa Mundi) e nem tampouco abaixo de ninguem.

E essa e a minha visao de voces criadores, de voces que fazem o muindo mais bonito, de voces que teem o dom do BELO.

Que tenhamos essa certeza. Que tenhamos a certeza de que O MUNDO ESTA NOS MAPAS DE PONTA CABECA!
maria graciete correia disse:

Tudo passa e na passarela também

O Bruno Astuto (que assina a matéria no site da Época) é desses que não fazem cerimônia para enfiar o "dedo no olho" daqueles que valorizam mais as coisas de lá do que de cá.

Há um bom tempo pergunto isso para o meu círculo de amizades envolvido com a moda:

- PORQUE HÁ ESSA MANIA DE MUITOS VIAJAREM COM FREQUÊNCIA PARA OUTROS PAÍSES COM O SIMPLES OBJETIVO DE FOTOGRAFAR TUDO O QUE PUDER E DEPOIS SE VANGLORIAR QUE TEM UM MONTE DE FOTOS PARA COPIAR OS MODELOS???   - QUE GLÓRIA HÁ NISSO???

Para esses, o jargão "No mundo nada se cria, tudo se copia!" é a mais absoluta verdade, mesmo que não tenha essência alguma.

Quando conseguiremos convencer tais jornalistas estrangeiros do valor de nossa moda, se ao chegarem aqui encontram uma réplica, um clone, do que já viram lá fora??? Sem a nossa essência não conseguiremos.

- SOMOS INCOMPETENTES PARA CRIAR??? Tenho certeza que não! Nisso há uma única certeza: Quem cópia sempre estará atrás, nunca na frente! (Conclusão brilhante!!!)

É triste ver gente do tamanho do Ronaldo Fraga, desanimado e aborrecido, afirmar que a moda acabou. 

Que nas discussões que iniciaremos no Grupo Primavera Têxtil possamos contemplar e extravasar essa questão, que penso ser importante como contribuição para uma mudança de paradigmas.

Criarmos nossa moda, brasileiríssima, tropicalíssima, certamente será também uma forma de melhorarmos nossa competitividade.

Somos super-criativos mano! Nao confiantes, mas criativos somos.Que bom que vc explicou sobre o autor; basicamente um vendedor de bapho!

Concordo plenamente com o que foi escrito acima ,realmente tem toda a razao em quase tudo,mas antes de reinvidicar cores e folclores ,acho que Deveriam parar de copiar modelitos dos outros e fazer o que realmente uma feirA de Moda deve fazer Criar tendencias e estilos e por falar em outros coisas desfiles de Moda 'e em janeiro e carnaval em fevereiro,desculpe a franqueza

Já foi dito por muitos jornalistas e fashionistas que não existe moda brasileira, mas isso abre uma nova discussão. Basta olharmos para os fashionistas que fazem questão de exibir seus óculos Prada e suas bolsas Louis Vuitton, Balenciaga, e por aí vai, para entendermos de onde vem a valorização pela moda internacional.

Em relação à sermos criativos ou não, tendo como base a busca de  "fontes de inspirações" na Europa e Estados Unidos não é uma prática exclusiva da indústria da moda todos sabemos disso. Mas apesar  das influências sofridas pela moda do Hemisfério Norte, a nossa moda tem um "quê" de Brasil.

Antes de discutirmos a questão em relação às cópias, nós brasileiros profissionais da moda devemos valorizar todas classes sociais em termos de consumo e os nossos próprios produtos.

Além disso é preciso ter uma linguagem de moda mais acessível para a nossa própria gente, depois nos preocupamos com o mundo lá fora.

Infelizmente ainda copiamos muito e confiamos mais no que já esta vendendo la fora.

A realidade é triste sim, existe talento nacional, mas ninguem quer apostar em modas e invenções tupiniquins, com medo de não vender.

Fora as rarissimas exceções daqueles que tem nome, coragem e cacife para faze-lo, a realidade ainda é essa.

PELADO CHIC E AMAZON FASHION

Bato na mesma técnica: Por não temos capacidade de criarmos a nossa moda? Alguma coisa que impede? Claro que não, somos criativos, diversos e graças a Deus a nossa comunidade Israelita cresce, o que devera trazer crescimento nas artes, fashion, literatura e cultura em geral – além de crescimento na área medica e de pesquisas em geral.

O nosso maior problemas e buscarmos mais do que inspiração fora do Brasil, sem valorizar o nosso, sem termos fé em nosso taco. Dai botas e casacos de visom nos trópicos e outras distorções causadas pela copia e emulação de ideias alienígenas.

Também temos a tradição da desconstrução da moda, ou seja, somos apreciadores de mulatas peladas, balançando os peitos, as cadeiras e a bunda antes, durante e após o Carnaval.

Nada errado nisso. Mas isso deveria nos dar uma NOҪẴO , uma direção para a nossa nodo: Vestidos virtuais, folhas de parreira, uso de plástico e tecidos transparentes; Isso seria o nosso IDEAL.

Todavia, analisando friamente a questão, nem todos nos domos as idílicas mulatas ou guris sarados da Praia do Leme. Para nós seres humanos normais, para nós de peitos caídos, de barrigas grandes, bundas chatas, pintos pequenos, enfim nos que necessitamos desesperadamente da ajuda das vestimentas, esse “Fashion Natural “ ou “Pelado Chic”, não seria o ideal. A moda compensa as nossas deficiências ou limitações físicas e nos embeleza, nos faz mais atrativos.

Mas sem duvida nenhuma, ate para nos humanos normais com as limitações acimas descritas (e outras suas e minhas  não descritas aqui) nós temos  nos trópicos  criatividade bastante para criarmos os nossos desenhos com um grau de exotismo e cores superior ao qualquer desenhista Europeu, que trabalha com muito menos opções de matérias.

Simplesmente, porque quando aparece um Rodrigo Rosner, a crítica cai matando, incentivo, nem pensar, esperar para ver o desfile acontecer, nem pensar e é isso aí. vamos aguardar, vamos ver a coleção do rapaz, depois comentaremos, OK

Graciette: Por que o povo cai de pau no Rosner? Sem nem ao menos ver a sua colecao? Qual a sua exlicacao? Sou extremamente ignorante no assunto, mas gostaria  de aprender um pouco com quem sabe. Hug, Abs, Sam

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