Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Industria Textil e do Vestuário - Textile Industry - Ano XVI

Gilson Abreu/Fiep / Gilson Abreu/FiepO presidente do Paraguai, Horácio Cartes, recebe a delegação de 180 empresários brasileiros: "Usem e abusem"

Um grupo crescente de empresários brasileiros, especialmente pequenos e médios, começa a olhar para o vizinho Paraguai, pensando se ele pode virar o México da indústria brasileira. A possibilidade de levar uma parte da produção local para o país vizinho e reduzir custos, especialmente usando a importação de insumos a custo zero quando a produção for destinada à exportação, entrou no radar das empresas e passou a ser incentivada pela maior representação da indústria brasileira. Durante a semana passada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) levou 180 empresários, representantes de 80 empresas, para o Paraguai. Durante três dias, os brasileiros ouviram um mantra: venham, tragam seu mercado e usem o baixo custo paraguaio para enfrentar a China. O convite encanta, mas a atitude é de cautela.

Os números funcionam como um verdadeiro canto de sereia. Encargos trabalhistas de 16,5% do custo da mão de obra, carga tributária de apenas 10% de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e 10% de Imposto de Renda e uma energia abundante e cerca de 60% mais barata. Além dos custos menores, um movimento sindical urbano ainda pouco atuante, uma mão de obra jovem e fácil de ser treinada, pouquíssimas reclamações trabalhistas e um governo "empresarial" se somam à lista de atrativos, que é completada pelo risco cambial zero e pela possibilidade de acessar mercados externos usando as preferências tarifárias que o Paraguai possui por ser uma nação pobre.

É como se todas as respostas paraguaias fossem na direção oposta à do Brasil. Para cada item "caro" no Brasil, o Paraguai oferece uma solução "competitiva", para usar o adjetivo que o ministro de Indústria e Comércio, Gustavo Leite, prefere ao "barato". "Não estamos convidando as empresas para que fechem suas portas e demitam no Brasil. A indústria brasileira está perdendo competitividade e elas podem enfrentar esse problema trazendo parte da sua linha de produção para cá", argumenta Leite.

As principais vantagens oferecidas pelo Paraguai são anteriores ao governo de Horácio Cartes, mas o empresário que virou presidente e se cercou de técnicos (muitos vindos do setor privado) reforçou o ambiente favorável ao investimento privado, formulou uma lei de parceira público-privada para investimentos em infraestrutura e adotou uma Lei de Responsabilidade Fiscal. A principal lei que atrai empresários, a da Maquila, é de 2000. Desde então, 60 empresas se instalaram no país para usufruir do benefício, 70% delas brasileiras.

Rui Altenburg, presidente da têxtil catarinense Altenburg, diz que já está olhando para o Paraguai há algum tempo. Os relatos de custo baixo são atrativos, mas é preciso "cautela", pôr os números no papel, pesar prós e contras. Com duas unidades no Brasil e 1.530 funcionários, Altenburg conta que produzir no Paraguai seria uma alternativa para abastecer o Brasil. Tiago Altenburg, filho de Rui e "quarta geração" da família na empresa, demonstra que a família fez mais do que "olhar" o Paraguai. "Podemos acessar Assunção por rio parte do ano, mas em alguns períodos a navegação fica complicada. Então, é preciso pensar na segurança no transporte por rodovias, às vezes é preciso batedores para ter segurança."

Nelson Hübner, do grupo paranaense Hubner, já passou da fase de pensar em prós e contras e concluiu que pode economizar 12% no custo de produção. Ele está em negociações com o Paraguai há três anos e pretendia fechar o negócio com o parceiro local na semana passada. Para ele, o mais difícil foi achar alguém com "graxa embaixo da unha, metalúrgico mesmo, como eu", conta. Comandando uma companhia familiar que planeja faturar R$ 250 milhões este ano, emprega 1.010 pessoas em três unidades no Brasil e exporta para 45 países, Hübner vai montar uma pequena unidade no Paraguai sobre a Lei da Maquila para produzir um subconjunto de componentes para o setor automotivo.

"É preciso começar com calma, e ver o que compensa produzir no Paraguai. Para cada produto, é um cálculo, uma logística, uma situação", explica. Para o empresário paranaense, o discurso paraguaio de "braços abertos" faz diferença. "Somos uma empresa familiar, não funcionamos no capitalismo selvagem", diz Hübner. O capitalismo selvagem, para ele, se traduz em bancos cada vez menos parceiros (apertando os limites de crédito), pressões sindicais crescentes, câmbio inconstante e fora do lugar, impostos altos. "Está impossível produzir no Brasil", resume.

Hubner vai entrar no Paraguai oferecendo know-how e mercado. Seu parceiro fará o investimento (pequeno, por enquanto, de cerca de R$ 3 milhões). Parte da peça será feita no Brasil, enviada ao Paraguai, completada com peça vinda da China com imposto zero de importação, e posteriormente vendida principalmente para o Brasil.

A triangulação desenhada por Hübner foi alvo, durante anos, da crítica da indústria brasileira à "maquila" paraguaia. Aguinaldo Diniz, vice-presidente da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg) e membro do Conselho de Administração da Cedro Cachoeira, conta que a triangulação de tecidos asiáticos manufaturados no Paraguai (se transformando em confecção) e entrando no Brasil com alíquota zero tem prejudicado o setor têxtil brasileiro. Se a confecção viesse direto da Ásia, pagaria 23% de imposto de importação. "O Brasil pode se aproveitar das regras paraguaias, mas não pode ser ingênuo", diz ele, que pediu uma reunião para discutir o assunto com os ministros do país vizinho.

Em 2013, 32 empresas brasileiras exportaram US$ 208 milhões do Paraguai para o Brasil, equivalente a 20% das vendas externas do país ao Brasil. Entre as não brasileiras, umas das mais bem-sucedidas é a japonesa Fujikura, cuja operação na América do Sul é comandada por Ignacio Ibarra. A fábrica paraguaia, instalada há dois anos e meio na Zona Franca de Ciudad del Leste, tem o menor índice de faltas ao trabalho entre as 84 fábricas do grupo no mundo, conta o executivo, que diz que sua maior surpresa no Paraguai foi o comportamento "exemplar" da mão de obra. Com 1.200 trabalhadores, a empresa produz chicotes (cabos elétricos) para veículos da Volkswagen, e manda 100% da produção ao Brasil. Ele completa 20% do atendimento à montadora com a fábrica brasileira.

No Paraguai, conta Ibarra, o cabo pronto fica 45% mais barato (contando impostos) que no Brasil. Como a mão de obra representa 70% do seu custo, ela faz diferença. O salário que chega ao trabalhador é entre 15% e 20% menor que o pago no Brasil, mas quando os encargos são somados o custo da mão de obra paraguaia sobe 16,5% e no Brasil, 97%. Além dos direitos legais serem menores no Paraguai, no país a empresa não tem despesa com transporte, seguro-saúde e vale-alimentação, lista Ibarra.

Silmar Bertin, do grupo que atua em diferentes áreas de negócios no Brasil, instalou a fábrica paraguaia da Marseg, empresa de equipamentos de segurança, principalmente calçados, na cidade de São Lourenço, vizinha a Assunção, região pobre e violenta. A oportunidade de um emprego formal e na indústria, diz, é rara na região. E quem a consegue, se dedica para mantê-la. "Os funcionários aqui são mais dedicados que no Brasil, mais fáceis de serem treinados, de serem ordenados", compara.

Na cidade existem 400 mil habitantes e 1.000 trabalham na Marseg, recebendo salário em torno de US$ 300 (salário-base), algo como R$ 750. No Brasil, o salário direto é um pouco maior, R$ 900. "Mas ele me custa o dobro", diz Bertin, informando que encargos e benefícios elevam o custo no Paraguai em 20% e em 100% no Brasil.

Uma das razões que levaram a Marseg ao Paraguai foi a necessidade de enfrentar a China. A empresa produz no Paraguai o cabedal (parte de cima do sapato) e o exporta para o Brasil. Além de reduzir o custo final do calçado brasileiro (na média, o custo final do sapato paraguaio é 30% menor), a operação no Paraguai permite uma exportação muito mais favorável aos Estados Unidos. Foi o calçado da Marseg paraguaia que recebeu certificação de qualidade da autoridade norte-americana e paga só 8% de importação para entrar nos EUA, enquanto os produtos brasileiro e chinês pagam 35%.

A possibilidade de acessar outros mercados com mais facilidade faz parte do canto de sereia paraguaio. O país pode acessar tanto a União Europeia como os Estados Unidos pelo Sistema Geral de Preferências (SGP), mecanismo pelo qual os países ricos concedem tarifas preferenciais para países pobres ou em desenvolvimento. O Brasil foi excluído do SGP europeu em 2014 e nos Estados Unidos o mecanismo está suspenso, à espera do Congresso americano.

A brasileira Camargo Corrêa foge à regra dos investimentos brasileiros até agora feitos no Paraguai, marcados por baixo custo de capital e alta geração de empregos. A empresa está investindo US$ 200 milhões, em parceria com a paraguaia Concretemix, para montar uma cimenteira capaz de abastecer mais da metade do mercado paraguaio. O objetivo do negócio não é exportar. O consumo anual de cimento no Paraguai é de 120 kg/ano por habitante, mais de três vezes inferior ao brasileiro, diz o diretor da Cimentos Iguazú, Cléber Ceroni, um brasileiro apaixonado pelo Paraguai - tão apaixonado que insiste que os brasileiros invistam no Paraguai não pensando apenas em fazer um negócio rentável, mas com sentimento de ajudar o país a se desenvolver.

A unidade entrega um saco de cimento com custo inferior ao brasileiro. Enquanto mão de obra e energia puxam o custo para baixo, a logística anda na direção contrária e o encarece. A empresa transporta pedras de calcário por mais de 400 quilômetros pelo rio até a vizinhança de Assunção onde está a cimenteira, que conta com a proximidade da subestação de 500 kV, recém concluída, e é a primeira unidade conectada diretamente a ela em uma linha de 220 kV

Intensiva em energia, a empresa paga pelo insumo entre 60% e 50% menos que no Brasil. Mesmo assim, o saco de cimento de 50 quilos é vendido no Paraguai por US$ 10, preço semelhante ao do Brasil. A resposta de Ceroni é chave para entender o sucesso do Paraguai entre os brasileiros. "O Ebitda no Brasil é menor", responde o diretor da cimenteira, em referência à rentabilidade que uma operação no Paraguai oferece em relação ao Brasil.


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Por Denise Neumann | De Assunção

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e como se encontra, o primeiros brasileiros, agricultores, que ate pouco tempo atrais, a midia divulgou, que eles, estavam a beira de perder suas terras, pelo os motivos,  este problemas ja foram resolvido, o que materia, enobrece,  o paraguai, aqui no brasil, tem varias e varias, regiaes, paraguais , bolivianas, etc, sem contar,

que a pouco tempo o presidente padre garanhao deles, foi deposto, num impecheman relampago, nos brasileiros, nao temos  memoria , mesmo, com uma materia dessa, que nao acrescenta em nada nosso setor.

E agora CLT,INSS.IR,IPI,CONFINS,13º,40%FGTS,1/3 FÉRIAS/VALE TRANSPORTE/ISS/CORRUPÇÃO ETC...

O Brasil foi excluído do SGP europeu em 2014 e nos Estados Unidos o mecanismo está suspenso, à espera do Congresso americano. (Sistema Geral de Preferências (SGP), mecanismo pelo qual os países ricos concedem tarifas preferenciais para países pobres ou em desenvolvimento.)

Que tal facilitar a vida e criar empregos aqui mesmo?

É como se todas as respostas paraguaias fossem na direção oposta à do Brasil.

A possibilidade de acessar outros mercados com mais facilidade faz parte do canto de sereia paraguaio.

Os números funcionam como um verdadeiro canto de sereia. Encargos trabalhistas de 16,5% do custo da mão de obra, carga tributária de apenas 10% de Imposto sobre Valor Agregado (IVA) e 10% de Imposto de Renda e uma energia abundante e cerca de 60% mais barata.

de qualquer forma , estaremos gerando empregos em outro país!!! mesmo que seja por um curto período...a solução ainda não é esta....para sermos ""globalizados"" temos que ter competividade na cadeia de impostos!!!em impostos!!!

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